Vento, chuva, cheia e desabastecimento, novos flagelos

  • Artigo do Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

A semana começou com 413 mil imóveis sem o abastecimento de eletricidade em São Paulo. Algo inimaginável num Estado onde uma das maiores vantagens constadas ao longo dos anos era a abundância energética, razão direta do seu desenvolvimento. Temeu-se durante anos que o volume muito grande de novas ligações produzisse a escassez, mas nunca a falta por razões fortuitas, como o vento forte. Até porque aqui não costumava ocorrer deslocamento de ar na magnitude do ocorrido na sexta-feira passada, quando a velocidade superou os 100 km/h. O noticiário nos diz que a previsão das operadoras é restabelecer por completo o abastecimento só amanhã (terça-feira, 07/11). O desabastecimento era tão imprevisto que moradores da zona sul da capital paulista comemoraram com um panelaço quando a luz acendeu, 53 horas depois da interrupção.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – Reprodução/Facebook

A falta de energia elétrica é um problema em qualquer parte do mundo porque, na forma que as cidades são estruturadas, tudo funciona através de eletricidade. Não havendo o abastecimento, a cidade para e é comum ocorrerem distúrbios, quebra-quebra e crimes de ocasião. Não temos informações de grandes distúrbios dessa vez em São Paulo e outras cidades sinistradas.  Talvez porque a população ainda estivesse impactadas  pelo vento inédito a que esteve submetida. Mas é bom que as distribuidoras e os órgãos reguladores do setor se estruturem para tornar o sistema mais resistente à intempérie.

Desde o final de julho e começo de agosto, quando o fenômeno ‘el niño’ chegou ao território brasileiro, com a força ampliada em relação às ocorrências anteriores, estamos submetidos a situações nunca antes vividas por aqui ou pelo menos muito raras. Assim foi com a chuva e deslizamentos no Litoral Norte paulista, os ciclones e tempestades que provocam as cheias no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Parana e São Paulo, a seca no Norte e Nordeste e outros problemas intermediários nas demais regiões. Os ventos fortes constituem um elemento novo para nós. Tanto que quando ocorreram, demorou para o restabelecimento dos serviços prejudicados, especialmente na área energética. E a falta de eletricidade leva, também, à escassez de água porque imobiliza os motores dos sistemas de captação e tratamento.

Além de ter acesso aos serviços mundiais de previsão do tempo, o Brasil possui competentes órgãos nessa área. É preciso que os governos, as universidades e os diferentes centros de pesquisa e infraestrutura se mobilizem para evitar a repetição do desabastecimento, que leva desconforto e insegurança à população.  O simples fato de quando os ventos chegam a 60 km/h já ocorrerem avarias é a prova de que não tivemos deslocamentos regulares nessa velocidade ao longo dos anos. Mas agora eles chegaram e no momento ainda não há previsão de quanto tempo permanecerão e de se um dia deixarão de acontecer em alta velocidade. Estima-se que o ‘el niño’ deixe de atuar em dois ou três anos, sendo substituídos por ‘la niña’, mas não há, ainda certeza de como e quando isso ocorrerá. O mais prudente, neste momento, é reforçar a áreas vulneráveis para evitar o colapso estrutural.

O elevado volume de chuvas e as dificuldades de vazão dos rios causam problemas a centenas de cidades do sul-sudeste. É preciso uma grande mobilização nacional para desobstruir os fundos de vale. Os ventos estão derrubando redes de abastecimento, destelhado imóveis e problematizando a estrutura urbanizada. Temos de encontrar as soluções para esses problemas porque, além dos prejuízos materiais, esses fenômenos de origem climática ainda provocam mortes, que são irreversíveis.

Durante muitos anos elogiou-se o Brasil por ser um território sem vulcões, falhas geológicas que levam terremotos e outros problemas estruturais. Hoje é preciso considerar que entramos na zona da instabilidade climática e precisamos encontrar as soluções mais adequadas.  Buscar tecnologia em áreas como o sul dos Estados Unidos, o México e outros países já preparados para enfrentar furações, ciclones, tempestades tropicais e outros acontecimentos do gênero. A nova e mais perigosa situação exige postura proativa e eficiente. Há que se montar estruturas integradas onde, exceto nos serviços altamente especializados, o pessoal do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Prefeitura e órgãos técnicos municipais, estaduais e até federais possam realizar as atividades de emergência sem esperar longos períodos (como ocorreu agora) pela distribuidora. Cada hora de desabastecimento representa grande prejuízo à economia, desconforto e até risco à vida das pessoas. A mudança dos esquemas de emergência é o imperativo do momento…

* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

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