MPF e MPE promovem audiência pública e visitam escolas para melhoria da educação básica em Miranda

Comunidade escolar lotou reunião realizada no âmbito do projeto MPEduc, desenvolvido em parceria entre as instituições

Audiência foi realizada na Câmara Municipal; comunidade escolar lotou o plenário – Foto: Ascom/MPF

A comunidade escolar do município de Miranda, localizado a 200 km da capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, lotou o plenário da Câmara Municipal, cedido para a realização da escuta pública inicial do projeto Ministério Público pela Educação (MPEduc). Esta etapa ocorreu no último dia 27 de setembro, e precedeu o início do cronograma de visitação às 17 escolas do município, que ocorreu no dia 28.

A iniciativa, promovida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, visa, ao longo de três grandes etapas, alcançar a melhoria da educação básica da cidade. Miranda recebeu nota 4.1 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021, numa escala que vai de 0 a 10.

Além de identificar os motivos do baixo desempenho no Ideb, a iniciativa pretende acompanhar a execução das políticas públicas na área da educação, bem como a adequada destinação dos recursos públicos.

Na etapa da escuta pública, os executores do projeto no âmbito estadual, o procurador da República Pedro Gabriel Siqueira Gonçalves e a promotora de Justiça Cinthia Gonçalves Latorraca, reuniram alunos e responsáveis, professores, diretores de escolas, representantes das secretarias municipal e estadual de Educação, o prefeito de Miranda, Fábio Santos Florença, e vereadores para conhecerem o formato de atuação do MPEduc e, sobretudo, para a coleta de informações sobre as condições do serviço de educação na rede pública local de ensino.

“Contamos não somente com a presença, mas com a efetiva participação da população na audiência pública, o que foi uma grande oportunidade para obtermos informações que, por vezes, não temos acesso nos relatórios oficiais. Esse diálogo com os cidadãos é fundamental, porque nos mostra quais são, de fato, os principais gargalos da educação básica do município”, pontua Siqueira Gonçalves.

Outro objetivo do projeto é verificar a existência e a efetividade de conselhos sociais com atuação na área de educação. Após ouvir os relatos de diretores e professores, o procurador destacou a importância da interlocução entre as secretarias municipais de Educação e Assistência Social, pasta na qual estão vinculadas as redes de proteção à criança e ao adolescente. “Entre as dificuldades apresentadas pelos professores estão questões relacionadas com a evasão e a abstenção escolar. O fortalecimento do aspecto social dessas crianças, para que haja uma proteção dentro da família e uma maior participação dos pais na vida escolar dos filhos, é o primeiro ponto para que consigamos reverter esses índices”, considera.

O prefeito de Miranda, por sua vez, declarou estar convicto de que a audiência pública resultará em melhorias na educação do município. “Essa audiência demonstrou que todos estamos engajados nessa luta. Vimos aqui pais, alunos e diretores com um objetivo em comum, e estamos dispostos a executar o que for necessário para alcançar esse resultado”, afirma.

Visita às escolas – A etapa de visitação teve início no dia 28 de setembro, com a Escola Municipal Indígena Coronel Nicolau Horta Barbosa, localizada na Aldeia Cachoeirinha, e Escola Municipal Maria do Rosário. Atualmente, Miranda conta com 17 estabelecimentos públicos de ensino que ofertam educação básica, dez deles dentro das aldeias indígenas e os demais para atendimento à população das zonas rural e urbana do município. A promotora de Justiça Cinthia Latorraca afirma que a meta é visitar as 17 escolas.

“Com as visitas conseguimos ter um contato próximo com os diretores, professores, e todos que trabalham na escola para entender quais são as dificuldades, problemas e poder contribuir para resolver ou, ao menos, melhorar as condições estruturais e do ensino local”.

A Escola Coronel Nicolau Horta Barbosa, por exemplo, recebe 647 alunos, da educação infantil ao fundamental, de quatro aldeias indígenas – Cachoeirinha, Morrinho e Lagoinha, além de um projeto de extensão da Escola Estadual Cacique Timóteo – que se revezam para beber água no único bebedouro disponibilizado para toda a comunidade escolar.

Não raro, os alunos deixam de frequentar as aulas por falta de transporte, conta o consultor vinculado à Secretaria de Educação de Miranda, que atua junto à equipe pedagógica da escola, Celinho Belizario. A abstenção só não é maior por causa de um amplo trabalho de busca ativa dos ausentes, considera ele.

Neste período de altas temperaturas, os alunos estudam em uma sala de aula sem ventiladores e praticamente no escuro, em razão de problemas na fiação elétrica da escola. O pagamento de um provedor de internet já chegou a ser rateado entre os professores, enquanto infiltrações tomam conta das paredes das salas de aula.

Medidas – Após esta etapa de diagnóstico das condições do serviço de educação ofertado nas 17 escolas de Miranda, serão apresentadas medidas corretivas aos gestores públicos, deliberadas de forma conjunta entre o MPF e MPMS. Por fim, o projeto prevê uma prestação de contas à sociedade acerca das providências adotadas e dos resultados obtidos.

Saiba mais – Lançado em abril de 2014 em todo o país, o MPEduc já foi executado em Dourados e outros 12 municípios da região. É fruto de uma parceria entre o MPF e o Ministério Público dos Estados com o objetivo de defender o direito à educação básica de qualidade. Por meio de audiências públicas, aplicação de questionários e reuniões com a comunidade, o projeto busca fazer um diagnóstico dos principais problemas enfrentados na localidade, construindo, de forma coletiva e democrática, possíveis soluções para as dificuldades identificadas. Atualmente, o projeto está sob a gestão da Câmara de Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral do MPF (1CCR), responsável pela condução dos trabalhos em todo o país.

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