“Diálogo de saberes” e “Povos indígenas em Mato Grosso do Sul” serão temas de conferências com Manuela Carneiro da Cunha, nesta sexta-feira

Aula inaugural do Mestrado em Educação e Territorialidade da FAIND traz doutora em Ciências Sociais; evento acontece pela manhã e tem continuidade à noite com lançamento do livro ‘Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul’ do PPGH/FCH

A professora Manuela Carneiro da Cunha – Divulgação

Diálogo de saberes: entre o saber fazer dos povos do campo e o domínio do conhecimento científico é o título da aula inaugural que será proferida pela professora Manuela Carneiro da Cunha, sexta feira, 12 de abril, às 9h, no Auditório da UEMS (Cidade Universitária). A aula é aberta à comunidade em geral e abrirá oficialmente as atividades do Programa de Pós-Graduação em Educação e Territorialidade da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND/UFGD), realizadora do evento.

A vasta produção da conferencista sobre o tema mostra as ausências geradas pela razão hegemônica na modernidade, tanto na história como no campo dos saberes considerados não científicos e que foram e são fundamentais para a humanidade. Ao mesmo tempo que aponta a condição subalterna que o conhecimento técnico científico tantas vezes reputa aos saberes tradicionais, também traz à discussão conhecidas questões éticas tais como biopirataria, apropriação dos conhecimentos e recursos naturais, transgenia entre outros.

Já no mesmo dia, às 19h30, no Auditório Central da Unidade 2 da UFGD (Cidade universitária), o evento tem continuidade com o lançamento do livro: Povos indígenas em Mato Grosso do Sul, de autoria da professora Graciela Chamorro e Isabele Combès. Na oportunidade, haverá uma mesa redonda sobre o tema com professora Manuela Carneiro da Cunha que, de certa forma, inspirou as organizadoras do livro. Manuela Carneiro também fará uma conferência ititulada: História dos índios no Brasil, que 27 anos atrás rompeu o silêncio sobre muitos povos indígenas do Brasil, no ambiente acadêmico. A conferencista é uma das integrantes do comitê científico do livro Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul, disponível para download na página da Editora UFGD, pelo link: https://www.ufgd.edu.br/setor/editora/catalogo

O livro
A obra é uma compilação de artigos originais escritos por pesquisadores e pesquisadoras dos povos indígenas do atual estado de Mato Grosso do Sul e as áreas geográficas contíguas. Nele, para os onze povos indígenas atualmente assentados no estado, apresenta-se um compêndio de sua história esquecida, desprezada ou ignorada; para a população não indígena, a outra cara de sua história; para docentes e estudantes, um material de estudo para sua formação na história indígena da região.

Mais do que isso, o livro traz artigos sobre a presença humana mais remota na região, indígenas que viveram desde pelo menos 12 mil anos. Sobre as centenas de povos contatados desde as primeiras décadas do século XVI e hoje desaparecidos, oferece igualmente vários artigos. Neles se reconhece a sua existência, sua importância e certo protagonismo na formação da América, do Brasil e Paraguai, da Bolívia, de São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul.

A elaboração de Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul atende a implementação da lei 11.645, de 2008, que torna obrigatório o ensino da história e cultura indígenas em todos os estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados, do país, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística, de literatura e história brasileira. A obra é um ponto de partida para mais investigações e um passo em prol do diálogo intercultural e da paz na região.

O evento de lançamento do livro é aberto à comunidade e é uma realização do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História Indígena LEPHI e do Programa de Pós-Graduação em História e conta com o apoio da Editora e da Reitoria da UFGD. Exemplares e outros a fins estarão à venda no saguão do Auditório Central da universidade, a partir das 18h30.

Para Graciela Chamorro, é através da Educação e do fomento de uma cultura da paz que se pode sensibilizar e interferir nos processos de invisibilização da história indígena e de certo desprezo dos povos indígenas contemporâneos em Mato Grosso do Sul. “E o livro dá sua contribuição nesse sentido. As mais de 40 pessoas autoras apresentam, de forma simples e bem documentada, a presença indígena no passado e no presente, as práticas culturais e as transformações sociais pelas quais passam os povos indígenas, como toda sociedade humana. Mostram também as políticas indigenistas do Estado e outros indigenismos atuantes no passado e hoje, entre eles o próprio indigenismo indígena”.

A professora enfatiza que as políticas indigenistas são uma forma de missão não religiosa nas comunidades indígenas que, na maioria das vezes, são exteriores aos povos indígenas, a seus projetos próprios de organização e devir social. “O livro é uma oportunidade de conhecer e reconhecer os povos indígenas e seus direitos, de saber que a situação em que eles se encontram hoje tem história, e que essa história não diz respeito só a eles, mas também a nós”.

Manuela Carneiro da Cunha
Manuela Carneiro da Cunha é antropóloga, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e graduada em matemática pela Faculté des Sciences de Paris. Fez pós-doutorado na Universidade de Cambridge. Foi professora doutora da Universidade Estadual de Campinas e professora titular da Universidade de São Paulo, onde, após a aposentadoria, continua ativa.

É professora emérita da Universidade de Chicago. Foi professora visitante na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, na Universidade Pablo de Olavide, na Universidade de Chicago; no PPGAS do Museu Nacional (UFRJ). Foi titular da cátedra “savoirs contre pauvretés” no Collège de France em 2011-2012. É membro da Academia Brasileira de Ciências, e da Academia de Ciências do terceiro mundo.

Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (1986-88) e representante da comunidade cientifica no CD (conselho deliberative) do CNPq. Foi indicada em 2014 pelo Governo Brasileiro para compor a Força Tarefa da IPBES (Plataforma Inter-governamental da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). É membro da (ILK Work Force) Força Tarefa de Conhecimentos de Povos Indígenas e Comunidades Locais da IPBES (2014-2019) e General Reviewer do Global Assessment da dessa plataforma (2017-2019). Colabora também na Plataforma Brasileira da Biodiversidade e é membro, desde 2018, do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Na Universidade de São Paulo, fundou em 1986 o Núcleo de História Indígena e do Indigenismo e dirigiu um projeto temático sobre História Indígena. Foi PI (Principal Investigator) de um projeto colaborativo financiado pela Fundação MacArthur (1992-1995) sobre conhecimentos tradicionais no alto rio Juruá, Acre; PI de projeto no CEBRAP financiado pela Fundação Ford sobre Políticas Culturais Indígenas (2009-2014); recebeu encomenda do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (2014-2017) para estabelecer bases de um programa sobre conhecimento indígena, e, recentemente, para construir diagnóstico sobre as contribuições dos povos indígenas e comunidades locais no Brasil para a geração, manutenção ou conservação da biodiversidade e a recuperação de solos e outros serviços ecossistêmicos.

Acesse o currículo completo da doutora pelo link: http://lattes.cnpq.br/0463124533515635

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