Moro e Lava Jato articularam contra Venezuela, diz jornal

Novos trechos de supostas mensagens do ministro foram reveladas – Foto: Pablo Valadares

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, trocou supostas mensagens com o procurador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, para expor dados sigilosos sobre as delações da construtora Odebrecht em relação ao escândalo de corrupção na Venezuela, informou uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo em parceria com o site The Intercept Brasil divulgada neste domingo (7).

A suposta conversa enviada pelo aplicativo Telegram foi iniciada em agosto de 2017. De acordo com a publicação, a Força-Tarefa de Curitiba e a Procuradoria Geral da República tinham como objetivo favorecer a oposição do país vizinho, que sofria com o endurecimento do regime do líder chavista Nicolás Maduro. A ideia era “contribuir na luta contra a injustiça”, apesar das informações de corrupção nos governos de Hugo Chávez e de seu herdeiro político não fossem consideradas como provas para efeitos jurídicos. “As conversas privadas pelo aplicativo Telegram em agosto de 2017 indicam que a principal motivação para o vazamento era política, e não jurídica, e que os procuradores sabiam que teriam que agir nas sombras”, explica o site The Intercept Brasil.

“Talvez seja o caso de tornar pública a delação dá Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, escreveu Moro para Dallagnol, na mensagem. A delação da Odebrecht, citada por Moro, trazia informações sobre pagamentos de propina a políticos de diversos países da América Latina e da África, incluindo a Venezuela. O documento estava sob sigilo por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ainda segundo a reportagem, algumas conversas sugerem que uma visita de dois procuradores venezuelanos ao território brasileiro seria a oportunidade de realizar o vazamento. Além disso, em outubro, Luísa Ortega Díaz, ex-procuradora-geral da Venezuela, publicou em seu site vídeos com trechos de depoimentos de um ex-diretor da empreiteira no país sobre contribuições a campanhas eleitorais de Maduro.

Moro e os integrantes da Lava Jato, por sua vez, não reconhecem a autenticidade das mensagens vazadas. Em uma publicação no Twitter, o ministro se defendeu e ironizou a suposta articulação. “Novos crimes cometidos pela Operação Lava Jato segundo a Folha de São Paulo e seu novo parceiro, supostas discussões para tornar públicos crimes de suborno da Odebrecht na Venezuela, país no qual juízes e procuradores são perseguidos e não podem agir com autonomia. É sério isso? “, escreveu.

A reportagem abre um capítulo internacional no escândalo, que veio a público desde 9 de junho, e chega na mesma data em que uma pesquisa Datafolha revela que a maioria dos brasileiros desaprova a atitude de Moro. Anexo em processos – A revista Veja, em parceria com o site The Intercept, também divulgou novos diálogos atribuídos a Moro e a procuradores. De acordo com os novos trechos, o então juiz orientava de forma ilegal as ações da Lava Jato.

Segundo a publicação, para a reportagem, foram analisadas mais de 649 mil mensagens no Telegram. Um dos principais pontos das conversas reveladas diz respeito a um pedido de Moro a uma delegada da Polícia Federal em Curitiba, identificada como Érika Marena.

A revista afirmou que Moro retardou a inclusão de uma prova no processo de Flávio Barra – executivo da Andrade Gutierrez preso na operação – para manter o processo na capital paranaense e não ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, alguns documentos apreendidos com um suspeito indicavam que o esquema de corrupção continha parlamentares envolvidos. Ainda conforme a revista, uma planilha com diversos pagamentos envolvendo políticos chegou a ser encontrada. Com isso, pelo fato de parlamentares terem direito a foro privilegiado, as investigações iriam para o então ministro relator da Lava-Jato, Teori Zavascki.

No entanto, Moro falou para Marena não ter “pressa” para acrescentar os novos documentos no processo. Outra revelação publicada na reportagem é de que o apresentador da TV Globo, Fausto Silva, forneceu uma espécie de consultoria ao atual ministro, dizendo que ele deveria usar uma “linguagem mais simples, do povão” durante entrevistas. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, também foi tema de umas das conversas. No dia 5 de julho de 2017, Moro questionou Dallagnol sobre rumores de uma possível delação premiada, mas que foi rejeitada pela Lava Jato um mês depois da troca de mensagens. Por fim, no dia 28 de abril de 2016, Moro alertou Dallagnol de que havia faltado uma prova na denúncia de Zwi Skornicki, empresário acusado de intermediar propinas no esquema da Petrobras. De acordo com a Veja, um dia depois o Ministério Público Federal (MPF) incluiu um comprovante de depósito de US$ 80 mil feito por Skornicki a Eduardo Musa, funcionário da estatal.

Da AnsaFlash 

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