Assentamento rural colhe cultivar de soja orgânica da Embrapa

A união de esforços entre produtores, Embrapa Agropecuária Oeste, Agraer, iniciativa privada e cooperativa possibilitou a colheita da primeira lavoura de soja orgânica, com BRS 511, em assentamento rural no Sul do Estado

Colheita de soja – Foto: Walder Nunes

A primeira colheita de soja orgânica realizada em assentamento rural no Mato Grosso do Sul aconteceu esse ano. O feito foi realizado no dia 11 de março de 2021, dando inicio a uma nova etapa produtiva para os agricultores da região. Parceiros e apoiadores da iniciativa participaram das atividades de abertura da colheita, realizada no Assentamento Itamarati, município de Ponta Porã.

A lavoura com 14ha de soja BRS 511, pertence ao produtor Djones Marcos Ambrust (Tigrinho). O trabalho foi acompanhado pela Cooperativa dos Agricultores Familiares da Itamarati (Cooperati), através do agrônomo Ariovaldo Ciriaco (Zezinho). Contou ainda com o apoio técnico do agrônomo da Agraer, Rogério Franchini e suporte da equipe da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS).

“Desde novembro estou me dedicando a essa atividade, fazendo o manejo e usando controle biológico. Meu desafio de produzir grãos orgânicos foi iniciado com a cultura da soja ano passado. Mas, é uma grande satisfação chegar aqui na colheita, podendo produzir alimentos e ainda ajudar o meio ambiente”, disse Tigrinho. Ele acrescentou que está satisfeito com os resultados e agradeceu o apoio das instituições envolvidas, informado “alguns companheiros, aqui do assentamento, estão animados com os resultados e estão dispostos a participar desse desafio também”.

Ele destacou ainda que dificuldades existem, especialmente por se tratar da primeira experiência de cultivo de soja orgânica no assentamento, mas que foram superadas. O agricultor familiar ressaltou a importância da dedicação diária no cuidado com a lavoura e explicou “exige de mão de obra para a limpa da planta, mas os insetos foram bem controlados com o uso dos biológicos e conseguimos controlar”.

O Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, Walder Antonio Gomes De Albuquerque Nunes ressaltou o interesse da instituição na continuidade do acompanhamento técnico dessa iniciativa e explicou “através dessa iniciativa pretendemos atualizar o Sistema de Produção de Soja Orgânica, já que houve alteração nos materiais genéticos disponíveis, nas doenças e pragas que atingem a cultura” Segundo ele, a soja orgânica também é interessante, pois o valor pago é diferenciado em relação as demais variedades do grão.

O Diretor-Executivo da Agraer, Fernando Nascimento, chamou atenção para o caráter histórico da iniciativa e acrescentou a importância de “colocar um produto diferenciado no mercado, cuja demanda cresce a cada dia, além de benefícios que o solo e os recursos hídricos receberão, com a redução do uso de produtos químicos, favorecendo a microfauna do solo e a qualidade dos mananciais”.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Milton Parron Padovan ressaltou a importância dessa iniciativa que vai contribuir com a melhoria da renda dos produtores no longo prazo. “É um salto para qualidade de vida tanto das famílias assentadas quanto da empresa que vai adquirir esses grãos. A perspectiva de cultivo de milho e aveia, além da soja, é um processo que está se consolidando na região e que contribui com a diversificação da produção e com o meio ambiente”, acrescentou Padovan. “A produção de grãos orgânicos em assentamento rural é um grande desafio, porém é uma excelente oportunidade para a Embrapa, que pode atender as demandas da agricultura familiar e estar ainda mais próxima desses produtores”, concluiu ele.

Manejo  – “Na área do Assentamento Itamarati a soja foi antecedida por milho em plantio convencional, razão pela qual a soja é considerada em processo de transição para o sistema orgânico, mesmo cumprindo todas as normas para a certificação orgânica”, explica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rodrigo Arroyo Garcia.

Ele informa ainda que o preparo da área foi realizado com grade pesada, subsolador e grade niveladora. E acrescenta que a fertilização contou com mil quilos de organomineral farelado, aplicado a lanço e quinhentos quilos de organomineral aplicado no sulco de plantio.

“A variedade cultivada foi a soja BRS 511, cultivar de soja convencional, desenvolvida pela Embrapa, que alia alta produtividade com inovação. A BRS 511 foi desenvolvida pela Embrapa Soja, em parceria com a Fundação Meridional. É uma variedade convencional, sem evento transgênico, mas que apresenta resistência à ferrugem asiática (tecnologia Shield) e com bom potencial produtivo”, salienta Arroyo.

Ele acrescenta ainda que a lavoura não apresentou problemas sérios em seu desenvolvimento, ocorrendo alguma infestação de mancha-alvo em seu final, mas sem comprometer a produtividade da lavoura que foi compatível a média da região em sistemas de produção convencionais.

Arroyo informa ainda que no decorrer do ciclo da cultura foram utilizados produtos considerados de baixo custo, como as caldas bordalesa e sulfocálcica, para prevenção e controle de doenças, além de produtos biológicos para prevenção e controle de doenças, solubilizante de fosfatos, promotor de crescimento e controle de pragas como lagartas, cigarrinhas, percevejo e mosca branca.

A produção será vendida à empresa Argomil (Avaré/SP), que necessita de ingredientes orgânicos para formular ração para aves na produção de ovos orgânicos.

Perspectivas  – Para a próxima safra de soja, a previsão é que sejam cultivados cerca de 100 ha de soja no sistema orgânico, incluindo as áreas dos assentamentos de Ponta Porã e Sidrolândia.

Nunes informa ainda que a Embrapa Agropecuária Oeste continuará a subsidiar a assistência técnica, buscando soluções técnicas para eventuais problemas e explica “podemos recorrer tanto aos pesquisadores locais quanto a uma ampla rede de pesquisa disponível no Brasil”. Ele acrescenta ainda que a Unidade pretende realizar o levantamento de custos e a análise da viabilidade econômica, a partir dos dados fornecidos pelo produtor e pela assistência técnica para contribuir com a viabilidade e sucesso da atividade produtiva no assentamento rural estadual.

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