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Vila Vargas, “Capital do Alho”

  • Por Madson Valente

Com este referencial em sua memória, nosso distrito preserva o “aroma” deste vegetal, fazendo com que gerações saudosamente façam referências para uma época ímpar em sua história.

Madson Valente é geógrafo, professor, assistente comercial da Sanesul e vereador de Dourados – Foto: Assessoria

Um dos vegetais mais consumidos na culinária mundial, o alho, que desde os primórdios já era utilizado pelos faraós como expectorante, já representou para o distrito de Vila Vargas o status de “Capital do Alho”. Foram épocas de apogeu para o distrito, pois a mídia dava total visibilidade para o importante distrito de Dourados, época em que havia a famosa Expoalho e promovia uma integração do setor produtivo do estado do Mato Grosso do Sul e do Brasil, com feiras de tecnologia e exposição dos produtos locais, sendo que o alho de Vila Vargas, com predominância do alho roxinho, seria eleito como vegetal mais saboroso, visto que este possui um odor e um sabor mais leve, mantendo seu gosto por mais tempo após o cozimento.

Diante das qualidades do alho e sendo testemunha do impacto positivo que este vegetal representou para Vila Vargas, usufruímos deste referencial até os dias atuais, mesmo não sendo mais produtores, mas sendo referência para os transeuntes como local para se comprar, pois não há como dissociar Vila Vargas da imagem do alho, principalmente aqueles de gerações mais antigas, automaticamente nos dizem: “Vila Vargas cheira a alho”. Entretanto devemos considerar que fatores climáticos dificultaram a produção, pois com a chegada das doenças, principalmente em razão da temperatura média de nossa região ser de 22° C, enquanto a temperatura ideal é de no máximo 20° C, pela ausência de conhecimentos tecnológicos, mas principalmente pelo início de uma concorrência desleal do alho chinês, que passou se inserir no mercado brasileiro, todavia preservou sua potencialidade comercial, devido estar às margens da BR-163, sendo esta rodovia uma indutora do desenvolvimento, cumprindo sua função social, gerando empregos e renda para nossa comunidade.

Compreender a dinâmica das relações internacionais, suas imposições comerciais, compreender a inserção do alho chinês, que se diga, inferior ao nosso alho, também a presença crescente do alho argentino, sendo este o nosso segundo fornecedor, além do alho espanhol, que não é o nosso maior propósito ao dissertar esta história, queremos verter nossa análise com sentimentos de gratidão aos precursores desta produção, que embora não sejamos mais referencial produtivo, mas que nos possibilitou ter um referencial, que nos garante culturalmente algo que nos dá identidade e que ainda nos gera benefícios econômicos.

Uma retrospectiva para homenagear estes atores se torna desafiante, diante dos inúmeros produtores, sendo que muitos já são falecidos, portanto nossa gratidão se estende aos familiares, pois as memórias destes devem possuir este pleno reconhecimento. Vila Vargas é resultante da capacidade laborativa destas extraordinárias pessoas, mulheres e homens que desempenhavam funções variadas, pois o plantio de alho era basicamente todo manual, desde os sulcos (covas), semeaduras, coberturas, capinar, arrancar, secagem, transporte, depois vinham os serviços de limpeza do alho, separação das cabeças, cortes e a confecção de réstias.

Entre as figuras emblemáticas sobre esta importância do alho, começo destacando a Dona Zefa, uma história de 44 anos às margens da rodovia. Persistente até hoje e transferindo suas habilidades comerciais para suas filhas, pois ambas também possuem pontos de vendas no perímetro urbano do distrito. Com muita dignidade e já com seus 84 anos, vê a BR-163 como algo que se confunde com sua própria história de vida, pois grandes fatos foram presenciados e testemunhados por aquilo que esta importante rodovia promove todos os dias.

Mas outras pessoas são lembradas por suas habilidades nas confecções das réstias, como é o caso do saudoso “Bastião Cachimbo”, quem não se surpreendia com tamanha técnica de agilidade e qualidade das suas tranças de alho? Técnica que ele fazia questão de ensinar aqueles que desejavam conhecer o ofício, com certeza algo que retrata a nossa infância. Das inúmeras alternativas que possuíamos para trabalhar, pois a oferta de serviço eram enormes, acordávamos e poderíamos escolher para quem iriamos fornecer nossa mão-de-obra, normalmente enquanto jovens decidíamos de forma coletiva, afinal queríamos estar juntos, pois trabalhar no processamento desta produção também era uma oportunidade para interagir, conversar, afinal naquelas épocas conversávamos literalmente, pois não havia o whatsapp.

Das inúmeras residências de produtores de alho, como não lembrar do seo Nicanor , do seo “Zé” Cirilo, do Diogo Marques, do seo Florisvaldo, “Zé” Lage, seo Samuel, seo João Nascimento, Martinez,Sarvino Xavier, Cássio Correia, Gurdiano, Antônio Almeida, Neco, Davi Guilherme, seo Zacarias, Tifonso, Izaias Marques, seo “louro”, seo Salu, seo Daniel do travessão torto, André Alves, Jonas Miranda, Abdias, Mário Dias, ” Zé” Mendes, seo Geovani, “Zé” Martins, “Zé” Mandeta, “Zé” Lopes, seo Jesus, respectivamente todos in memoriam, nossa expressão maior de gratidão de várias gerações.

Destacamos aqueles que por anos também se dedicaram a esta atividade, Nilo Marques, Vangivaldo Belo, Elvis belo, Josenildo Belo, Eduardo Laier, João Leão, Jaime Garcia, Nilson Belo, Mauro Belo, Elias Pereira, Maria “Pretinha”, Manoel Nascimento, Ronaldo Xavier, José Valdo, José Clementino, Adão Tagares e Adãozinho.

Dos remanescentes que apenas comercializam destacamos sr. Paulo da “máquina”, Edmar Reis Belo, Leila da dona Zefa, Fátima da dona Zefa, Tereza, Edson, Valdirene, Fernando, Elias Alves, Paulo Berch, Sueli, entre outros.

Foram períodos memoráveis, que consolidavam o conceito da importância de políticas de estímulos para produção familiar, que exemplificava que Dourados de fato é vocacionada para o desenvolvimento econômico, que, por coincidência, apresentava para memória de Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil, cujo nome oferece para nosso distrito, que este local inserido no maior programa de Reforma Agrária da história deste país, com distribuição de dez mil lotes no ano de 1943 fazia frutificar riquezas, oportunidades de trabalho e integração de uma comunidade, que fez inclusive se formar uma das Cooperativas mais organizadas para época, denominada Coopalho, que também se extinguiu diante da impotência para produzir e da concorrência desleal com o mercado internacional, notadamente o Chinês e o Argentino.

Que nos sentidos amplos para palavra gratidão fique para todos aqueles que são oriundos desta terra, sentimentos fortes de reconhecimento, que embora as muitas mãos que lavraram estas terras não estejam mais conosco, todavia que suas famílias compreendam que estes foram valorosos deram suas contribuições, transformaram vidas, promoveram culturas retas de interpretações de vivência comunitária, que nossa Vila Vargas continue sendo referencial para aqueles que desejam comprar um dos temperos mais poderosos do planeta, pois continuamos “capital”, isso nos orgulha. “Capital” do alho, isso é nosso, esta é nossa identidade.

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