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Tiradentes, um mártir em questão?, por Iran Coelho das Neves

Tentativas de desconstrução da imagem do alferes como herói da Independência inserem-se numa nova onda de revisionismo, quase sempre de inspiração ideológica.

Iran Coelho das Neves é Presidente do TCE-MS – Assessoria

O feriado de 21 de abril celebra a memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, enforcado em 1792 e, posteriormente, erigido como Mártir da Independência do Brasil, que só seria proclamada trinta anos depois.

Embora há algum tempo certos historiadores apontem que o “processo de mitificação” de Tiradentes só se deu a partir da Proclamação da República – pela necessidade de heróis que aproximassem o movimento com as camadas populares –, nota-se que tentativas de desconstrução da imagem do alferes como herói da Independência inserem-se numa nova onda de revisionismo, quase sempre de inspiração ideológica.

Obviamente, não interessava à monarquia, estabelecida em 1822, celebrar a memória de um inconfidente republicano como herói nacional. Daí, o longo olvido a que Tiradentes e a própria Conjuração foram relegados, até a proclamação da República, em 1889.

Porém, sustentar que a instauração da figura de Tiradentes como herói da Independência foi uma simples jogada de ‘marketing político’, urdida pelos próceres militares e civis para popularizar o regime republicano que acabavam de instalar, extrapola os limites da imaginação criativa de correntes acadêmicas novidadeiras.

Não se trata, naturalmente, de questionar o direito de historiadores, de esquadrinhar os mais diferentes aspectos e personagens de nossa história, expondo novos olhares sobre eles. O problema é quando teses – que devem ter suporte em dados e referências confiáveis – são substituídas por simples especulações que, mesmo manejadas com habilidade, não passam disso.

Aliás, bem a propósito desse revisionismo recorrente em nossa historiografia, o economista Pedro Malan (ministro da Fazenda de 1995 a 2002) dizia, ainda na década de 1990: “No Brasil, até o passado é incerto.” Com respeitável formação acadêmica, Malan certamente não estava pondo em questão a natural inquietação dos historiadores diante de verdades ‘definitivas’. Antes, ironizava as frequentes tentativas de revisar fatos de nossa história, sob a conveniência desta ou daquela corrente ideológica.

Pretender reduzir a dimensão histórica e a importância emblemática de Tiradentes como Mártir da Independência, sob o trôpego argumento de que foi resgatado porque o culto a sua memória era útil para popularizar o regime republicano recém-instalado, afronta a própria essência de nossa brasilidade, corrói o cabedal de valores com os quais se constrói o sentido de pátria.

É certo que uma nação não precisa inventar um novo ‘herói’ a cada crise, real ou fictícia. Mais certo, porém, é que a nação que não celebra seus autênticos heróis estará em descompasso com a sua história. E, portanto, fadada ao desencontro com seu futuro.

Cultuar a memória de Tiradentes como Mártir da Independência do Brasil é, antes de tudo, celebrar os valores fundantes da Pátria.

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