Manobra é reflexo da divisão entre o partido governista
As Forças Armadas do Zimbábue assumiram o poder do país nesta quarta-feira (15), mas negam que seja um “golpe de Estado”. O presidente Robert Mugabe, no cargo desde 1987, está em prisão domiciliar. Já a primeira-dama Grace Marufu teria fugido para a Namíbia, de acordo com fontes locais.
“Estou detido em casa, mas estou bem”, disse Mugabe, de 93 anos, em uma conversa por telefone com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Nas emissoras de televisão do Zimbábue, o Exército informou que “a segurança de Mugabe está garantida” e negou que seja um golpe de Estado. Os miliares disseram que a manobra é uma tomada temporária do poder para “afastar e prender criminosos” no governo. As Forças Armadas tomaram a sede presidencial e prédios públicos. Também há bloqueios e controles das principais vias da capital, Harare. Os militares ainda prenderam o ministro das Finanças, Ignatius Chombo.
A movimentação começou durante a madrugada, com tanques do Exército saindo para as ruas e ao menos três explosões na capital. Líderes internacionais estão tomando cuidado em se pronunciar sobre o episódio, já que há incertezas sobre como a situação fluirá. A União Europeia (UE) pediu que a crise culmine com uma “solução pacífica”.
Entenda a crise
Na semana passada, Mugabe destituiu seu vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, acusando-o de planejar sua derrubada. Mais de 100 funcionários do alto escalão do governo foram punidos por darem suporte a Mnangagwa.
Com a saída de Mnangagwa, a primeira-dama Grace era o nome mais cotado para assumir a Presidência do Zimbábue, em uma transição de poder com Mugabe.
Por isso, especialistas acreditam que a tomada do poder pelos militares tenha sido articulada por Mnangagwa, na tentativa de afastar Grace, impopular devido ao seu estilo de vida de alto padrão. Mugae e Mnangagwa são do mesmo partido, o Zanu-PF (União Nacional Africana do Zimbabwe), que está rachado. No Twitter, a legenda também negou que tenha sido um golpe. “Não houve nenhum golpe de Estado, apenas uma transição de poder sem derramamento de sangue”, escreveu.
De acordo com o partido, algumas “pessoas corruptas e desonestas” foram presas, e o presidente Mugabe, “um homem ancião do qual a esposa se aproveitava”, “foi colocado em custódia”. Além disso, os miliatres estão optando por não chamar a manobra de “golpe de Estado”, já que seriam condenado e não teriam o reconhecimento da comunidade internacional.
Vida pessoal
Mugabe nasceu em 1924 e trabalhou como professor. Viveu em Gana, onde conheceu sua primeira esposa, Sally Hayfron. Venceu as eleições após a independência do Zimbábue do Reino Unido. Ele se casou com Grace Marufu em 1996. A primeira-dama tem 52 anos de idade e nasceu na África do Sul.
Em 2009, um fotógrafo britânico a acusou de violência quando tentava fazer imagens dela em Hong Kong. Em 2014, ela começou a ser cotada como possível sucessora de Mugabe, tornando-se líder de um grupo feminino.
Da AnsaFlash