Delator diz que pagou US$ 4,8 milhões em propinas para Marin e Del Nero entre 2013 e 2014

Segundo depoimento, empresa comprava barato direitos de transmissão e revendia bem mais caro à TV Globo. A diferença, usava para pagamento de propinas.

O ex-funcionário da empresa argentina Torneos y Competencias (TyC), José Eladio Rodrigues, disse em depoimento prestado nesta quarta-feira no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, que pagou propina aos ex-presidentes da CBF, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, e ao atual detentor do cargo, Marco Polo Del Nero. Eladio especificou que Marin e Del Nero receberam juntos US$ 4,8 milhões entre 2013 e 2014 em propinas referentes à Taça Libertadores (US$ 1,8 milhões) e à Copa América (US$ 3 milhões). Ele afirmou também que, usando empresas nas Ilhas Cayman e na Holanda, a TyC comprava barato os direitos de transmissão de campeonatos da Conmebol, como a Libertadores, e revendia mais caro para a TV Globo. A diferença era usada para pagar propinas para dirigentes.

Eladio contou que em abril de 2017 foi procurado por investigadores americanos e decidiu fazer um acordo de colaboração. Ele devolveu US$ 675 mil para o governo americano e aceitou depor. Em troca, não foi acusado de nada pelos EUA. No tribunal, ele foi interrogado pelo promotor federal Samuel Nitze e detalhou como conseguia o dinheiro para pagar as propinas para os dirigentes esportivos.

– Foi uma companhia criada para vender direitos da Libertadores para a TV Globo. E usava fundos para pagar subornos – disse o executivo argentino, ao ser questionado se tinha conhecimento da companhia T&T Holanda.

Em seguida, explicou ao promotor como a companhia era usada e depois disse que a diferença de valores era usada para pagar subornos.

– A T&T Cayman vendia os direitos para a T&T Holanda a um preço muito mais baixo. A T&T Holanda vendia para a globo por um preço muito maior – disse Eladio.

Na sequência, o promotor perguntou sobre as propinas pagas especificamente a dirigentes brasileiros, e o funcionário da empresa de marketing esportivo citou Ricardo Teixeira. Questionado sobre o pagamento da propina após a renúncia de Teixeira, falou nos nomes de Marin e Del Nero, sem afirmar especificamente quem recebia o suborno.

– Eles estavam sempre juntos. Então não sei qual deles era o presidente – completou Eladio.

A testemunha disse ainda que só pela Libertadores chegou a pagar a quantia de US$ 900 mil (R$ 2,9 milhões na cotação atual) por ano a Marin e Del Nero, que, segundo Eladio, dividiam a quantia entre si.

Marin é acusado de sete crimes: três de fraude, três de lavagem de dinheiro e mais um por fazer parte de uma organização criminosa. Ele (assim como Del Nero e Teixeira) é acusado de receber propinas em três contratos: Copa América, Copa Libertadores e Copa do Brasil.

As acusações de Eladio Rodriguez nesta quarta-feira dizem respeito a duas delas, as duas primeiras. Até agora não houve nenhuma citação ao contrato da Copa do Brasil — em que as propinas teriam sido pagas por Traffic e Klefer.

Procurado pelo GloboEsporte.com, Ricardo Teixeira deu sua versão:

“Nunca me sentei para negociar contrato algum da Conmebol. Era presidente da CBF: então, eu tratava de seleção, amistosos e Copa do Brasil. Libertadores, Copa América… era tudo com Grondona, Leoz e Figueredo. Isso tudo é mentira.”

A defesa de Marco Polo del Nero divulgou o seguinte comunicado:

“Com referência à citação feita pelo delator premiado José Eladio Rodriguez na Corte de Justiça do Brooklin, New York, EUA, o presidente da CBF, Marco Polo del Nero, vem a público esclarecer que nega, com indignação, que tivesse conhecimento de qualquer esquema de corrupção supostamente existente no âmbito das entidades do futebol mencionadas. As investigações levadas a efeito naquele país não apontaram qualquer prova de recebimento de vantagens de qualquer natureza por parte do atual presidente da CBF. Igualmente, o que fica claro é que os contratos sob suspeita não foram por ele assinados nem correspondem ao período de sua gestão na presidência da CBF. Esclarece, ainda, que jamais foi membro do Comitê Executivo da Conmebol, mostrando-se também falsa essa informação.

Cumpre assinalar, ainda, que o depoimento do Sr. José Eladio Rodriguez se mostra contraditório, confuso e inverossímil, eis que afirma sequer saber quem foi o presidente da CBF que substituiu Ricardo Teixeira à época dos fatos, certo que não foi Marco Polo Del Nero que o sucedeu, como o mundo sabe.

Por fim, reafirma que nunca participou, direta ou indiretamente, de qualquer irregularidade ao longo de todas atividades de representação que exerce ou tenha exercido.”

O Grupo Globo divulgou a seguinte nota sobre o caso:

“O Grupo Globo comprou em boa fé os direitos da Copa Libertadores da empresa T&T Holanda, então detentora dos direitos. O Grupo Globo está surpreso com as alegações feitas no julgamento de que aquela empresa era usada para o pagamento de propinas a terceiros e reafirma que não tolera nem paga propinas.”

Do Globo Esporte

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