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Cuidados paliativos: comissão criada no HU-UFGD visa fortalecer práticas humanizadas de assistência ao paciente e seus familiares

Membros da Comissão de Cuidados Paliativos do HU-UFGD, junto ao superintendente do hospital, Ricardo do Carmo Filho – Divulgação

O grupo foi apresentado hoje à comunidade hospitalar e tem como objetivo prevenir e tratar de forma integral o sofrimento de pacientes acometidos por doenças que apresentem risco à qualidade de vida

Dona Maria Garcia da Silva tinha 76 anos quando se despediu de sua grande família no solário do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD). Após mais de 60 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) em função de uma grave doença cardíaca, ela finalmente se reuniu a todos que amava numa celebração em agradecimento por sua vida e sua história, tornando iluminado um momento que poderia ter sido de solidão entre tubos, sondas e medicamentos.

Dois dias depois, dona Maria se foi, e para a equipe que realizou seu cuidado ficou o aprendizado de que, mesmo diante da morte iminente, existem muitas possibilidades de se proporcionar vida digna e protagonismo ao paciente, de forma a prevenir e tratar seu sofrimento, assim como o das pessoas que o cercam.

Essa filosofia e suas práticas, chamadas de cuidados paliativos, vêm sendo fortalecidas há anos no HU-UFGD, e, recentemente, foram institucionalizadas com a criação de uma comissão envolvendo profissionais de diversas áreas que buscam implementar uma cultura em prol da qualidade de vida de pacientes em fase terminal ou portadores de doenças ameaçadoras à sobrevivência.

Em uma breve cerimônia na manhã de ontem (8), o grupo, que é composto por 12 colaboradores, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogas e assistente social, se apresentou à comunidade hospitalar e expôs os princípios que norteiam o trabalho em prol dos cuidados paliativos.

Além dos sintomas físicos

O médico intensivista Hermeto Paschoalick, que é presidente da Comissão de Cuidados Paliativos (CCPali), explica que a prática consiste na abordagem multiprofissional e multidimensional do sofrimento de pacientes acometidos por doenças que apresentem risco a sua qualidade de vida, não se resumindo a casos terminais. Existe, aliás, o cuidado paliativo precoce, que é realizado em conjunto com as medidas curativas ou prolongadoras de vida.

“A prevenção e o tratamento do sofrimento do paciente e de seus familiares é feito por meio da abordagem das diversas dimensões desse sofrimento, seja ele físico, psicológico ou espiritual. A partir da solicitação da equipe, pretendemos identificar problemas vigentes e iminentes e propor ações capazes de minimizar o sofrimento, respeitando a autonomia e os valores do paciente, objetivando mantê-lo informado e protagonista de seus cuidados”, esclarece o profissional.

Participação indispensável da família

Durante todo o processo, a família do paciente tem papel fundamental, independentemente se o desfecho do quadro será a melhora ou a morte, pois o óbito não é visto como tragédia e, sim, como evento natural e integrante da vida. “Os efeitos do luto e da morte, que são reconstruídos durante a hospitalização, não são nocivos à saúde da família, pois são feitas a prevenção e a promoção de saúde com os cuidados ofertados ao paciente e a seu círculo”, afirma a psicóloga Francyelle Marques de Lima, também integrante da CCPali.

A exemplo da história de dona Maria, que a profissional acompanhou intimamente junto à equipe da UTI Adulto, na filosofia dos cuidados paliativos o foco é o paciente e não a doença, sendo a prioridade o cuidado e não os protocolos e as regras institucionais.

“A escuta e o diálogo foram fortalecidos e, assim, as possibilidades de cuidados foram surgindo. A família de dona Maria não morava em Dourados, dificultando seu acesso às visitas em seus últimos dias de vida. Eles organizavam pequenas caravanas para vê-la no hospital, mas as restrições de horários e visitantes eram empecilho, além do silêncio e da discrição exigidos durante as visitas”, conta.

A visão humanizada dos integrantes da equipe, inspirados pelos princípios dos cuidados paliativos, abriu, portanto, um horizonte de experiências para proporcionar conforto à paciente. “Quando o cuidado é protagonista, as regras que vão contra a concretização dos objetivos deixam de fazer sentido. Dona Maria era mulher de fé e a religiosidade sempre foi ponto central em sua vida. Por entendermos isso, ela pôde ouvir suas netas cantando e seu filho lendo a Bíblia, na beira do leito. Cantaram um, dois, quantos cânticos quiseram. E não atrapalharam. As expressões de amor receberam nossas boas-vindas”, relata Francyelle.

Por fim, uma celebração em sua homenagem foi organizada em um dos solários do HU-UFGD e, ciente de sua situação, dona Maria pôde ver o dia uma última vez e estar entre filhos, netos e bisnetos, que a honraram com a leitura de sua biografia. “Ela viveu momentos felizes e cheios de amor e nós, juntamente com sua família, fizemos tudo que estava ao nosso alcance para realizar seus últimos desejos. Temos em nossas mãos o poder de ajudar a transformar esses momentos que seriam de sofrimento, em instantes marcantes e cheios de vida”, conclui.

Origem do termo

Reconhecidos como uma forma inovadora de assistência à saúde, os cuidados paliativos vêm ganhando força no Brasil, especialmente nos últimos dez anos. Surgiram oficialmente como prática na década de 1960, no Reino Unido, tendo como pioneira a médica Cicely Saunders, que também era assistente social e enfermeira. Seu trabalho iniciou o movimento, que inclui a assistência, o ensino e a pesquisa, e norteia-se pela integralidade do atendimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, reconheceu e definiu pela primeira vez os conceitos de cuidados paliativos, inicialmente voltados a pacientes com câncer. Em 2002, o conceito foi revisto e ampliado, incluindo assistência a outras doenças como AIDS, cardiopatias, doenças renais, neurológicas e degenerativas e, por fim, em 2004 passou a ser apontada como parte da assistência completa à saúde, no tratamento de todas as doenças crônicas, inclusive em programas de atenção a idosos.

Integrantes

Compõem a CCPali do HU-UFGD os médicos Hermeto Paschoalick, Vitor Arce e Flávio de Paula Moraes, os enfermeiros Fabrícia Becker, Raquel Borges e Tiago Amador, as fisioterapeutas Raquel Bressan e Regilene Monteiro, as psicólogas Francyelle Marques, Larissa Andreatta e Nádia Dan Bianchi e a assistente social Simara Elias.

*O relato sobre o caso da paciente Maria Garcia da Silva pode ser lido na íntegra no site da Rede HumanizaSUS: http://redehumanizasus.net/uma-despedida-extra-paredes-de-uti-quando-a-expressao-de-amor-recebe-nossas-boas-vindas/

**Com informações do artigo “Cuidados Paliativos”, publicado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142016000300155

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