Plantio Direto em sequeiro no MS: cobertura do solo com braquiária produz mais soja e milho

Em 2004, Otávio Vieira de Melo, agrônomo e produtor na região da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul, adotou a cobertura de braquiária e o não revolvimento do solo para enfrentar os desafios impostos pelas limitações do clima e irrigação encontrados no Centro – Oeste. Implantadas as práticas preconizadas pelo Plantio Direto na fazenda, logo diminuíram a compactação e a temperatura da superfície, facilitando o aprofundamento das raízes e a retenção de umidade. Além de reduzir em 70% os custos para controlar a buva, o capim – amargoso e outras ervas daninhas, a adoção da técnica promoveu um salto produtivo de 54 para 72 sacas de soja por hectare ao longo do tempo.

Localizada no município de Itaporã, a 120 quilômetros da fronteira com o Paraguai, a propriedade de 250 hectares, produz hoje basicamente soja e milho safrinha, cultivados em sequeiro. O automonitoramento é um aliado para dirimir os prejuízos causados pelos insetos de difícil controle, com a utilização de armadilhas para identificar as espécies e quantidades atuantes na plantação. Para garantir as medidas de proteção à safra, o produtor conta também com três aplicações periódicas de fungicidas multiuso e a base de carboxamida.

“A minha média de produtividade dos últimos três anos de milho safrinha está em torno de 115 sacas por hectare. Tudo isso é graças a um parâmetro de correção de solo bem feita e à técnica de plantio direto sobre palhada de milho e Brachiaria ruzizienses, intercalada com o milho safrinha. Então me dá uma quantidade de palha suficiente para o bom desenvolvimento da cultura da soja que planto em outubro”, ressalta Otavio.

No entanto, segundo o produtor, dificuldades financeiras para manter a estrutura do negócio, nos últimos cinco anos, tem comprometido a rotação de culturas na maior parte da fazenda. Porém, ainda há rotação com aveia, trigo e milheto em 8% da área, com o intuito de melhorar a produtividade pontualmente. A partir de avaliações permanentes, outros 12% da plantação já recuperaram a capacidade produtiva com o mesmo manejo.

“Praticamente estamos num binômio entre soja e milho safrinha, mas não deixo de fazer a braquiária intercalada. Planto milho com um espaçamento de 90 cm e juntamente coloco a Brachiaria ruzizienses, na proporção de 1,5 kg por hectare, numa profundidade de 4 cm para não ter competição com o milho na fase de desenvolvimento vegetativo. Com a decomposição, a palhada também proporciona a adição de matéria orgânica ao solo. O plantio de soja começa em meados de outubro vai até 20, 25 de outubro. E a minha colheita é nos primeiros cinco dias de fevereiro. Começo a plantar o milho safrinha durante o mês de fevereiro e termino no máximo até cinco de março, porque o zoneamento agrícola para vai até 10 de março.”, diz Otavio.

Irrigação

Com o clima tropical e os intensos períodos de veranicos duas vezes por ano, a cobertura do solo é uma alternativa perfeita para a agricultura na região. Apesar do farto manancial de água disponível, a expansão da agricultura irrigada ainda enfrenta grandes problemas com distribuição de energia elétrica deficiente e entraves na obtenção de licenças ambientais para construção de açudes.

“Gostaria de ter a minha área toda irrigada, mas temos uma deficiência muito grande em relação aos horários específicos para podermos utilizar a irrigação. E também a questão da quantidade de energia disponível para o produtor na ponta. Outra coisa, as redes de energia disponíveis para as propriedades muitas vezes não se adequam ao projeto de irrigação. Temos problemas sérios de veranicos, no inverno e no verão, principalmente na segunda quinzena de dezembro e primeira quinzena de janeiro. Tenho clientes para quem presto consultoria, com pivôs centrais instalados, conseguindo fazer três, no máximo quatro culturas por ano”, explica Melo.

Cobertura ideal

Originalmente utilizada como pasto, a braquiária tem se mostrado perfeitamente adequada às características climáticas do Estado. O domínio das técnicas conservacionistas, bastante difundidas na região é fruto do trabalho de pesquisa e transferência tecnológica da Embrapa Agropecuária Oeste (CPAO).

“Temos altas temperaturas então a degradação é muito rápida, principalmente o milho safrinha muito usado aqui. O único meio que nós conseguimos viabilizar é com braquiária, que chega a uma quantidade em torno de 10 toneladas por hectare.”, revela o produtor.

De acordo com Gessi Ceccon, pesquisador da unidade e especialista no segmento, embora ainda exista preparo de solo para o plantio da soja no Mato Grosso do Sul, cerca de 60% da área total (1,5 milhões) é semeada em plantio direto, seguida pelo milho safrinha já totalmente cultivado sob a prática conservacionista, com cerca de 600 mil hectares cobertos com Brachiaria ruziziensis.

“O rumo da pesquisa é mostrar que a cobertura permanente do solo com a braquiária vai proporcionar melhores condições para a vida microbiológica do solo, mais especificamente a inoculação da soja com Bradyrhizobium e de milho com Azospirillum, fazendo com que a soja e o milho produzam mais no mesmo ambiente.”, afirma o pesquisador Ceccon”.

Da FEBRAPDP – Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação

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