Pantanal foi o bioma com maior área queimada no Brasil desde 1985

Iniciativa pioneira de mapeamento histórico das cicatrizes do fogo em todo o território brasileiro gera o mais abrangente banco de dados sobre áreas queimadas e incêndios florestais do País, com dados inéditos – e preocupantes

Anos de 1999 e 2020 foram os com recordes de áreas queimadas no Pantanal, diz estudo – Foto: CBMS

Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do Brasil – e do bioma Pantanal – obtido pelo MapBiomas após analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional. Entre os cinco biomas brasileiros, nenhum foi tão atingido como o Pantanal: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma vez entre 1985 e 2020. Mais de 60% do total da área queimada, queimou mais de uma vez nesses 36 anos.

Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, independente do uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo.

“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender mudanças fundamentais no regime de fogo e seu avanço sobre o território brasileiro. Saímos de menos de 200 mil km² de área queimada em 1985 para chegar perto de 2 milhões de km² em 2020 em uma escalada constante e ininterrupta”, explica Ane Alencar, do Coordenadora do MapBiomas Fogo. “Outro dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados”, ressalta.

No Bioma Pantanal é possível identificar os anos de 1999 e 2020 com os recordes de áreas queimadas. Foram anos secos e de grande acúmulo de biomassa. “O Pantanal tem uma vegetação adaptada ao fogo, mas em regime de frequência muito grande, ele torna-se prejudicial à biodiversidade de flora e fauna. O combate ao fogo no Pantanal é especialmente desafiador, portanto, ações de manejo integrado e preventivo do fogo, devem ser discutidas para proteção do bioma”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.

No caso da Mata Atlântica, os meses de agosto, setembro e outubro constituem o período em que mais ocorrem queimadas, sendo que mais de 80% das queimadas ocorreram em áreas agropecuárias ou campestres, “É possível observar uma queda após 2004, quando começam a entrar em vigor leis para regulamentar a queimada em lavouras”, explica Marcos Rosa, Coordenador da equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Mata Atlântica.

O Cerrado ocupa a vice-liderança entre os biomas que tiveram seu território queimado pelo menos uma vez no período, com 733.851 km², ou 36% de sua área, seguido pela Amazônia (690.028 km², 16,4%). Na média anual, porém, o Cerrado assume a liderança, com 67.833 km²/ano – mais que a Amazônia, cuja média ficou em 64.955 km²/ano. Como a Amazônia (5,5 milhões de km²) tem mais do dobro da extensão do Cerrado (2 milhões de km²), é evidente como este último tem sido muito mais castigado pelos incêndios florestais. Ao analisar a porção do bioma Cerrado que queimou duas vezes ou mais, esse percentual alcança 60%. A quase totalidade (87%) da área queimada no Cerrado foi em vegetação nativa. Entre 1985 e 2020, a área queimada a cada ano no Cerrado equivale a 13 vezes o Distrito Federal.

Os dados nacionais são igualmente impressionantes. A cada um desses 36 anos entre 1985 e 2020, o Brasil queimou uma área maior que a da Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do país. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil. Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa. 85% de toda a área queimada pelo menos uma vez no país nesse período ficam no Cerrado (44%) e na Amazônia (41%).

Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento principalmente antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% dos incêndios ambientais.

Os dados de queimadas e incêndios florestais estão disponibilizados em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada em para qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma https://mapbiomas.org/, aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 36 anos. A resolução é de 30m, com indicação do tipo de cobertura e uso da terra que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com CAR.

Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org

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