O voto (impresso ou não) e a paz política e social

  • Por Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

As lives do presidente Jair Bolsonaro, às quintas-feiras, costumam ter uma hora ou menos de duração. Mas a de ontem (29), estendeu-se por mais de duas horas. O voto impresso, foi o tema principal, contrapondo o chefe do governo ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luiz Roberto Barroso e a outros ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que, nos últimos dias, peregrinaram pelo Congresso Nacional em busca da rejeição da PEC 135/2019, de autoria da deputada Bia Kicis, que determina a acoplagem de impressora às urnas eletrônicas para o registro e guarda de cada voto depositado pelo eleitor. Participaram da apresentação técnicos de informática, que demonstraram a possibilidade de fraude, e citaram incidentes de eleições passadas já denunciados às autoridades.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de SP – Reprodução/Facebook

Apesar do nervosismo da contenda – afinal são representantes de duas forças institucionais em posições opostas – pudemos ver um Bolsonaro menos ácido do que em pronunciamentos anteriores. Talvez seja sua nova imagem pública de “Jair do Centrão”, conforme o dito por ele mesmo. Defendeu seguidamente as eleições e a necessidade delas serem seguras e limpas. Buscou a definição do voto impresso como mais uma segurança ao processo eleitoral contra a possibilidade de fraudes. Embora tenha lançado dúvidas sobre o TSE, e criticado a libertação e reabilitação da elegibilidade de Lula, não o fez de forma virulenta. A divergência entre os líderes do Executivo e do Judiciário é salutar e – o mais importante – dá ao Legislativo, a instituição encarregada de atualizar a legislação, os elementos para decidir da melhor forma. Cumprida essa etapa, o processo restará aperfeiçoado e os três poderes terão dado sua contribuição ao fortalecimento da democracia. Considere-se, ainda, que os deputados, senadores e os demais ocupantes de cargos eletivos – governadores, prefeitos e vereadores – também são interessados na segurança do processo de votação porque, da mesma forma que os candidatos a presidente da República, eles também estarão sob risco se o sistema for passível de fraude.

Perto do trecho final da longa live, Bolsonaro falou da imprensa que – com razão ou não, o tem maltratado – reconhecendo que os veículos de comunicação têm importante papel a cumprir na sociedade democrática. Repetiu teses que tem defendido desde a posse, como a exceção de ilicitude nas operações de segurança como forma de evitar a perseguição aos policiais em seu trabalho de combate ao crime e à desordem social.

Neste domingo – 1º de agosto – ocorrerão as manifestações pela aprovação do voto impresso (e auditável), que deverá ser votado na próxima quinta-feira, dia 5. Esperamos que sejam atos firmes e pacíficos. E que, na data da votação, os parlamentares estejam completamente livres para escolher a opção que lhes pareça mais adequada ao avanço e manutenção do processo eleitoral. Afinal, são os representantes do povo decidindo sobre uma questão nacional e até sobre o próprio destino, pois eles próprios são resultantes das eleições.

Vivemos um momento crucial. Há muito não tínhamos a política nacional conturbada por tanto tempo e nem observávamos tanta mistificação e incompreensão entre seus praticantes. Já passou da hora das verdadeiras lideranças tomarem as rédeas em busca da racionalidade. Não podemos continuar nesse permanente estado de guerra eleitoral, fake-news e irresponsabilidades. Brigando, os políticos e as figuras institucionais não representam a sociedade que, para se desenvolver, precisa de paz, trabalho e foco. Aproveitem o momento de desmobilização das restrições relativas à pandemia da Covid-19 e também recolham as armas do desentendimento e da desqualificação permanente do adversário. Vamos, todos, trabalhar pela construção e manutenção daquela sociedade justa, solidária e progressista onde há lugar para todos. Em nome do Brasil, vamos priorizar nossas convergências e cultivá-las sem perder nossa própria identidade e nem deixar que as divergências nos levem ao caos.

Precisamos de paz. Sem ela, a democracia que muitos batem no peito dizendo ter ajudado a implantar, poderá deixar de existir.

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