Mosca-dos-estábulos é discutida durante Workshop da Embrapa e Biosul

Thadeu Barros, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, fala sobre controle químico da mosca-dos-estábulos durante Workshop – Foto: Kadijah Suleiman
Thadeu Barros, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, fala sobre controle químico da mosca-dos-estábulos durante Workshop – Foto: Kadijah Suleiman

Os surtos por mosca-dos-estábulos continuam sendo um problema e causando prejuízos a pecuaristas com propriedades próximas a usinas de cana-de-açúcar. Nessas regiões, consideradas áreas de risco, os surtos se repetem todos os anos, sendo os cinco estados mais prejudicados, como já de conhecimento: São Paulo com mais de cem municípios afetados; Mato Grosso do Sul com 12 municípios; Minas Gerais com oito municípios; seguidos por Goiás e Mato Grosso. O assunto foi tratado no 8º Workshop sobre mosca-dos-estábulos, voltado a técnicos de usinas de produção de açúcar e álcool, realizado pela Embrapa e Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), dia 18 deste mês, em Campo Grande.

Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte e um dos palestrantes, Paulo Cançado, também existem surtos não relacionados a usinas em estados como Pará, Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. “Sempre que houver uma atividade de agricultura industrializada e, consequentemente, a geração de um grande volume de resíduos agrícolas, próxima à pecuária, existe o risco de surtos ocasionais de mosca-dos-estábulos, que usam os resíduos como ambiente para reprodução”, explica.

Além dos resíduos da fazenda, ambiente natural da mosca, o uso inadequado de adubos orgânicos, como a cama-de-frango, são ambientes propícios à reprodução dos insetos. Quando a mosca sai da fazenda do pecuarista e vai para esses ambientes de resíduos agrícolas, onde não há atividade pecuária, ela tem a vantagem de não encontrar predadores naturais, como vespinhas, ácaros e predadores microscópicos (fungos e bactérias).

Na questão do controle químico da mosca-dos-estábulos, o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Thadeu Barros, falou durante o Workshop, que atualmente é excessivo o uso de inseticidas por pecuaristas e nas usinas, “Uma das consequências é a ampla disseminação de resistência a piretroides, como se observa, por exemplo, em Mato Grosso do Sul”.

Em fase de finalização de um projeto sobre controle químico da mosca, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado do Mato Grosso do Sul (Fundect), o pesquisador diz que a intenção é continuar esses estudos visando chegar o mais próximo possível à realidade, principalmente, das usinas que têm produção em larga escala. “O objetivo é que, em curto prazo, possamos fazer algumas recomendações sobre esse controle químico”.

A consultora e doutora em monitoramento e combate à mosca-dos-estábulos, Taciany Ferreira, apresentou o trabalho desenvolvido desde agosto de 2016 junto à Usina Coruripe, em Campo Florido (MG). Lá ela colocou em prática as informações obtidas durante uma pesquisa feita na Embrapa Gado de Corte para controle e monitoramento populacional da mosca. Ela conta que, a partir de um conjunto de ações, também em parceria com pecuaristas, conseguiram obter resultados satisfatórios com redução de 90% da população de moscas no período comparativo entre agosto de 2016 e agosto de 2017.

A mosca

De acordo com artigo escrito pelos pesquisadores Paulo Cançado e Thadeu Barros, a mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) é comum em todo o país e se alimenta de sangue de vários animais, principalmente equinos e bovinos, além de animais silvestres e, eventualmente, o homem. Embora parasite outros animais de criação, os bovinos são os mais afetados, com perdas de 10% a 30% no ganho de peso e até 50% de redução na produção leiteira. A estimativa é de que os prejuízos causados por esta mosca no Brasil podem atingir 350 milhões de dólares anualmente.

Embora as infestações sejam mais comuns em gado de leite, devido ao desenvolvimento das larvas da mosca em resíduos de alimentos e dejetos animais acumulados nas propriedades, explosões populacionais (surtos) da mosca-dos-estábulos têm sido cada vez mais frequentes também em gado de corte.

Ainda de acordo com o texto, apesar dos anseios da sociedade, não existe solução para o problema no curto prazo. Embora comprovada a relação entre fazendas de gado e usinas alcooleiras na dinâmica dos surtos, vários aspectos importantes sobre a epidemiologia do inseto ainda são pouco conhecidos e precisam ser investigados. Nesse sentido, a Embrapa tem desenvolvido pesquisas visando tecnologias que permitam prevenir ou reduzir significativamente o problema.

O pesquisador Paulo Cançado explica que um dos motivos para a dificuldade no combate à mosca é o pouco conhecimento sobre o inseto, que nunca foi considerado um grave problema no mundo. A mosca-dos-estábulos passou a ser um problema grave a partir da industrialização da agricultura, o que é meio recente.

“No caso especifico da cana-de-açúcar no Brasil, ocorre por conta da proibição da queima, no início dos anos 2000, e uma grande expansão da indústria de etanol, que aumentou muito a quantidade de usinas e expandiu a produção da cana de açúcar. Nos últimos 5 ou 6 anos, foi expressivo o aumento de produção de cana em Mato Grosso do Sul, por exemplo. Como uma questão nova, ainda não conta com tecnologias prontas, além de ter pouquíssimas pessoas trabalhando com pesquisa sobre a mosca-dos-estábulos”, finaliza o pesquisador.

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