Indústria garante renda extra a costureiras de Dourados e Caarapó para fazerem máscaras

A costureira Cleide Mara Luciano Lopes, 37 anos, sabia que as coisas ficariam difíceis quando a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) irrompeu no Brasil, mas, ainda assim, foi um baque perder o trabalho do dia para a noite. O alento era o emprego que o marido mantinha em uma empresa de cobrança de Caarapó (MS), pequeno município da região sul do Estado.

Do outro lado da cidade, a Yvu, indústria têxtil especializada na fabricação de roupas tecnológicas para ciclismo, triathlon e corrida, buscava mão de obra especializada para atender a uma demanda que tinha crescido vertiginosamente em poucos dias: a produção de máscaras de tecido.

Foi assim que Cleide Lopes passou a ser uma das 20 costureiras associadas da Yvu e, de casa, passou a fazer máscaras de tecido, considerada uma importante barreira para evitar a propagação da Covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus.

Desde março, ela consegue conciliar o cuidado dos filhos, de 1, 4 e 9 anos de idade, que estão em casa devido ao fechamento de creches e escolas, e assegurar renda para a família. “Acredito que esta oportunidade foi uma bênção do senhor para a nossa casa. Estava sem emprego e não teria como trabalhar porque não teria onde deixar as crianças. Agora consigo fazer as duas coisas”, comemorou.

Para viabilizar a confecção das máscaras, a Yvu cedeu o maquinário necessário (uma galoneira), além de toda a matéria-prima. As costureiras associadas mantêm contato com a empresa por meio de um grupo de WhatsApp e, quando o material acaba, solicitam mais itens, que são entregues na porta de casa. Tudo para respeitar o distanciamento social, enquanto a produção não para.

Gleice Patrícia de Matos, 36 anos, também entrou na parceria com a Yvu. “Desde que minha filha mais nova nasceu, há 4 anos de idade, não consegui mais trabalhar fora de casa. Fazia pequenos reparos e consertos só quando algum cliente me pedia, mas, de uns tempos para cá, as coisas começaram a ficar mais difíceis e poder ter essa renda extra ajuda a pagar a contas”, celebrou.

Ela completa que acorda cedo e passa o dia fazendo o acabamento das máscaras, que já chegam quase prontas. “Tem sido ótimo, porque minha mãe, que tem 62 anos e tem pressão alta, precisa ficar quieta em casa”, pontuou.

A poucos quilômetros dali, em Dourados (MS), onde a Yvu tem outra unidade, Simone da Silva Coutinho, 41 anos, também tira o sustento da casa participando do grupo de costureiras. Com três filhos, de 6 a 19 anos de idade, ela também comemora a possibilidade de ter um dinheiro a mais para ajudar nesse momento de crise. “Mal estava dando para pagar as contas. Agora dá para fazer um supermercado, uma feira”, informou.

Mesmo na hora do aperto, a solidariedade fala mais alto: além dela, a confecção das máscaras também ajuda a vizinha de Cleide, Mirian Rey Barrios, que, nas folgas do trabalho formal, se junta a ela para complementar a renda com a produção de máscaras.

“Delivery” de matéria-prima

A ideia da parceria com as costureiras locais surgiu quando o empresário Gilson Kleber Lomba, proprietário do Grupo Yvu, se viu em meio a um dilema: precisava de mais mão de obra para conseguir atender à crescente por máscaras de tecido e, ao mesmo tempo, se viu impedido, por questões de segurança, de alocar mais costureiras na linha de produção.

“Levar todo o maquinário necessário até a casa das costureiras parceiras e subsidiar o trabalho delas entregando a matéria prima via ‘delivery’ foi a forma que encontramos de atender a demanda da sociedade que precisa estar protegida e, ao mesmo tempo, oportunizar que essas famílias tenham renda neste momento de crise”, afirmou o empresário.

Segundo Gilson Lomba, quase 100% das linhas de produção da Yvu em Dourados e Caarapó foi readequada para fabricar as máscaras. Saíram de cena as bermudas, camisetas e acessórios de alta tecnologia para realização de trilhas e pedais, e entraram os itens considerados fundamentais para proteção contra a Covid-19.

Atualmente, as plantas da Yvu conseguem fabricar 15 mil máscaras por dia, mas a meta, após mais algumas reestruturações, é chegar a 30 mil, explica o empresário. Além de Cleide, Gleice, Simone, Mirian e da Yvu, a população de Mato Grosso do Sul também saiu ganhando com essa parceria.

Parte da produção das máscaras está sendo comercializada no mercado local, mas a maior fatia foi distribuída nos bairros da periferia de Campo Grande, por meio de uma iniciativa da Fiems e do Sesi, que encomendaram 500 mil máscaras para serem doados às famílias em situação de vulnerabilidade social.

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