- Por João Baptista Herkenhoff
Os textos bíblicos referem-se à capacidade de antecipar o que estava para vir, como própria dos profetas.
Mas essa antevisão não provinha de um poder mágico. Era fruto da sabedoria. Denunciando vícios e abusos, os profetas anteviam o resultado dessas mazelas.
O povo se identificava com o profeta e reconhecia nele o ideal que ele mesmo carregava dentro de si.
Neste artigo quero prestar reverência a dois profetas: Dom João Baptista da Mota e Albuquerque e Padre Gabriel Maire.
Uma intercorrência de datas e fatos assinala essas duas vidas.
Em 1909 nasceu Dom João Baptista. Em 1936 nasceu o Padre Gabriel.
Em 1957 Dom João Baptista tomou posse como Bispo da Diocese, tornando-se Arcebispo em 1958.
Em 1980 o Padre Gabriel Maire, vindo da França, como missionário, chega ao Brasil. É recebido, de braços abertos, em Vitória, por Dom João Baptista.
Em 1984 morre Dom João Baptista. Celebra-se na Catedral Missa de Corpo Presente. Entre os concebrantes estava o Padre Gabriel Maire.
Em 1989 morre o Padre Gabriel, num crime que até hoje não foi devidamente apurado.
Em 2009 uma dupla celebração colocou lado a lado, os dois Profetas: celebrava-se o centenário de nascimento de Dom João Baptista da Mota e Albuquerque; rememoravam-se os vinte anos do martírio do Padre Gabriel Maire.
Como se assinala o dom da profecia em Dom João e no Padre Gabriel?
Era o mês de fevereiro de 1979. Uma grande enchente do Rio Doce constitui-se em calamidade pública invadindo diversas cidades ribeirinhas mineiras e capixabas.
Diante daquele quadro duas categorias de protagonistas encaravam-se face a face, como se estivessem nas duas margens do rio:
de um lado, milhares de pessoas humildes, que viam escoar pelas águas todo o fruto do seu trabalho: alimentos, modestos móveis, roupas, colchões, berços de crianças;
de outro lado, centenas de voluntários que, movidos pelo amor cristão, estavam ali para socorrer e até para chorar junto.
Dom João disse então, às margens do Rio Doce, uma frase que teve a força de convocar, unir, encorajar: “Só o povo salvará o povo”.
Quem, senão um Profeta, poderia dizer uma frase dessa?
Padre Gabriel Maire abraçou, de corpo e alma, a luta do povo pela posse de um pedaço de terra no lugar denominado Barbados (hoje Bairro Padre Gabriel). Nesta luta por terra para os pobres, confrontou-se com interesses imobiliários de empresários e políticos. Ali começou a história de sua morte.
A luta do Padre Gabriel sempre foi uma luta inspirada na Fé. Nunca pediu alguma coisa para si próprio. Também ele cunhou uma frase profética: “Prefiro morrer pela vida do que viver pela morte.”
Dom João Baptista e Padre Gabriel Maire são dois profetas capixabas.
Embora não tenham nascido no Espírito Santo, são Profetas capixabas porque em nosso Estado proclamaram a Profecia.