Ao avaliar missão empresarial promovida aos EUA, presidente da CNI disse estar confiante na abertura de caminhos para a solução do impasse e detalhou temas que podem possibilitar parcerias com os americanos

Empresários industriais participaram da missão promovida aos Estados Unidos para discutir as tarifas sobre exportações brasileiras – Divulgação/CNI

Os empresários industriais que participaram da missão promovida aos Estados Unidos para discutir as tarifas sobre exportações brasileiras saem confiantes com as oportunidades de negociação abertas. A avaliação foi feita pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, ao fim da viagem, encerrada nesta quinta-feira (4), em Washington. O dirigente destacou, contudo, que o trabalho iniciado pela instituição nos três dias de encontros com integrantes do governo e empresários norte-americanos não se encerra aqui.

“A missão continua. Nós fizemos um trabalho de diplomacia empresarial, que é de sermos facilitadores de uma mesa de negociação, quer seja para redução de tarifas, quer seja para aumentar a lista de exceções ou, ainda, para criar oportunidades”, disse Alban.

As oportunidades mencionadas pelo dirigente abrangem pesquisa e desenvolvimento de insumos para data centers, aproveitamento de energia renovável abundante no Brasil para a produção de Combustível Sustentável da Aviação (SAF) e estudos para a exploração de minerais críticos e terras raras. Para o presidente da CNI, os segmentos representam grande potencial para o desenvolvimento de negócios de interesse mútuo dos dois países, contribuindo para a negociação em busca da redução tarifária.

“Toda crise envolve desafios, e todos os desafios abrem oportunidades. Nós trouxemos aqui três segmentos que podem ser explorados e que são de forte interesse mútuo: desenvolvimento da produção de SAF, data centers e minerais críticos e terras raras. Nós estamos preparados para sentarmos à mesa de forma construtiva”, frisou Alban.

Encontros com empresários e autoridades do governo

A comitiva da CNI reuniu 130 empresários, líderes de associações de setores industriais afetados pelas sobretaxas e dirigentes de federações das indústrias de oito estados – Goiás (Fieg), Minas Gerais (Fiemg), Paraíba (Fiepe), Paraná (Fiep), Rio de Janeiro (Firjan), Rio Grande do Norte (Fiern), Santa Catarina (Fiesc) e São Paulo (Fiesp).

Durante três dias, os integrantes da comitiva participaram de diálogos bilaterais para discutir a relação comercial no contexto das tarifas e estratégias de atuação, se reuniram com autoridades de governo – o secretário adjunto do Departamento de Estado, Christopher Landau, e o subsecretário de Comércio para a Indústria e Segurança, Jeffrey Kessler –, parlamentares e com a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Cecília Ribeiro Viotti.

O embaixador Roberto Azevêdo, consultor da CNI para as negociações, teve reunião com o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), órgão governamental responsável pela elaboração e implementação da política comercial externa. Azevêdo também representou a instituição na audiência pública do USTR que está investigando as práticas comerciais do Brasil nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio americana.

“Ficou evidente que o papel do setor privado é muito importante, sobretudo fazendo contatos com as congêneres americanas. Esse diálogo que nós mantivemos foi muito importante para identificar as sinergias que existem entre os setores produtivos do Brasil e dos Estados Unidos”, avaliou Azevêdo. “O próximo passo é mapear todas essas áreas e, a partir daí, voltar a ter contatos com as autoridades americanas, com o Congresso e criar mecanismos de diálogo que busquem complementar os canais da diplomacia tradicional”, completou.

Parceria de 200 anos e superávit americano

Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica sólida e estratégica, baseada em comércio, investimentos e integração produtiva. Essa parceria, construída ao longo de 200 anos, é caracterizada por um fluxo comercial expressivo e um superávit persistente para os EUA, tanto em bens quanto em serviços.

Os EUA são o principal parceiro do Brasil em diversos aspectos: exportações da indústria de transformação, especialmente de produtos com maior intensidade tecnológica, comércio de serviços e investimentos bilaterais.

Destaques da parceria econômica entre Brasil e EUA

  • Os EUA mantêm superávit comercial expressivo com o Brasil: cerca de US$ 91,2 bilhões na última década apenas em bens, chegando a US$ 256,9 bilhões quando incluídos os serviços.
  • As economias brasileira e americana são complementares: o comércio bilateral é composto por fluxos intensos de insumos produtivos. Na última década, esses bens representaram, em média, 61,4% das exportações e 56,5% das importações brasileiras.
  • A integração econômica com o Brasil impulsiona cadeias produtivas nos EUA: em 2024, 11 estados norte-americanos importaram mais de US$ 1,0 bilhão em produtos brasileiros. Entre eles, quatro concentraram 58,5% do total – Califórnia (17,0%), Flórida (16,6%), Texas (15,0%) e Nova Iorque (9,9%).
  • A tarifa média aplicada pelo Brasil a produtos americanos é baixa, de 2,7%: mais de 70% do valor importado pelo Brasil dos EUA está isento de impostos de importação, beneficiando bens estratégicos como petróleo, aviação e fertilizantes.
  • Medidas comerciais impactam cerca de 78% das exportações brasileiras: as tarifas adicionais impactam US$ 32,9 bilhões das exportações brasileiras, em 6.037 produtos. As tarifas adicionais atingem todos os setores da indústria de transformação, exceto coque, derivados de petróleo e biocombustíveis.
  • A relação Brasil-EUA é fortemente sustentada pelos investimentos: o parceiro norte-americano foi o principal destino dos anúncios de investimentos greenfield brasileiro no mundo entre 2013 e 2023, concentrando 142 projetos de implantação produtiva.

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