
O Banco Central decidiu elevar novamente a taxa básica de juros, a Selic, diante da alta nos preços dos alimentos e da energia, além da instabilidade no cenário econômico global. O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou os juros em 1 ponto percentual, fixando a taxa em 14,25% ao ano — o maior patamar desde outubro de 2016.
Em comunicado, o Copom ressaltou que as incertezas externas, principalmente relacionadas à política comercial e ao comportamento do Federal Reserve (Fed), influenciam diretamente as decisões da autoridade monetária brasileira. Internamente, o órgão avaliou que a economia nacional segue aquecida, ainda que com sinais de moderação no ritmo de crescimento.
A inflação, tanto a geral quanto os chamados núcleos — que excluem itens mais voláteis como alimentos e energia — permanece em alta. O Copom destacou o risco de persistência da inflação de serviços e reafirmou o monitoramento atento das diretrizes da política econômica do governo.
O comunicado também enfatizou a importância da percepção dos agentes econômicos sobre a sustentabilidade fiscal do país. O comportamento da dívida pública e o regime fiscal influenciam fortemente os preços dos ativos e as expectativas do mercado.
Para as próximas reuniões, o Copom sinalizou que poderá promover elevações menores na taxa Selic, começando já em maio. No entanto, não indicou com clareza qual será a trajetória após essa próxima etapa do ciclo de aperto monetário.
O comitê reforçou que o tamanho final da elevação dos juros dependerá da evolução da inflação. A política monetária continuará sendo ajustada conforme for necessário para garantir a convergência da inflação à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
Essa foi a quinta alta consecutiva da Selic, consolidando um ciclo de contração monetária iniciado em setembro do ano passado. Na ocasião, os juros estavam em 10,5% ao ano e vêm subindo progressivamente desde então.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em fevereiro, o IPCA subiu 1,48%, influenciado por itens como o fim do bônus de Itaipu na conta de luz e o aumento no preço dos alimentos. Em 12 meses, a inflação acumulada atingiu 4,87%, ultrapassando o teto da meta anterior.
Com a adoção do novo modelo de meta contínua, a inflação passa a ser acompanhada mês a mês, sempre considerando os 12 meses anteriores. Para 2025, o Banco Central projeta IPCA em 5,1%, acima da meta de 3% (com intervalo de 1,5 ponto percentual). O boletim Focus, divulgado pelo próprio BC, mostra estimativa ainda mais elevada: 5,66%.
O aumento da Selic busca conter o avanço da inflação, mas também encarece o crédito, dificultando a expansão do consumo e da produção. Embora o Banco Central tenha revisado para 2,1% sua projeção de crescimento do PIB para 2025, o mercado prevê uma expansão mais modesta, estimada em 1,99%.