Durante os horários de pico, os motoristas romenos quase dobram de tempo para fazer percursos que costumam ser fluídos
Nove dias por ano: essa é a média de tempo que os motoristas perdem no trânsito na capital europeia mais congestionada, Bucareste, na Romênia. Segundo os analistas, os problemas são devido à má infraestrutura da cidade e ao intenso volume de carros entupindo as vias nos horários de pico.
De acordo com um estudo feito pela Tom Tom, consultoria e fabricante de dispositivos GPS, a má educação dos romenos no trânsito contribui ainda para os problemas no trânsito de Bucareste, tornando-a a quinta cidade mais congestionada do mundo.
“O problema é que não há um anel viário que impeça que o veículos trafeguem pelas ruas do centro da capital”, explicou a jornalista Catiusa Ivanov à agência de notícias espanhola EFE.
Segundo a Tom Tom, dirigir certas distâncias dentro de Bucareste leva cerca de 50% mais tempo durante os horários de pico quando comparados com os momentos em que o trânsito flui mais – geralmente no meio da tarde e aos finais de semana.
A ausência de espaços para estacionamento causa outro problema à capital romena, porque muitas ruas ficam repletas de automóveis no meio-fio, piorando ainda mais a situação.
Isso significa que, em média, os moradores de Bucareste gastam 57 minutos por dia parados no tráfego de carros. No curso de um ano, isso equivale a nove dias gastos com as mãos no volante e em busca de paciência para driblar as ruas entupidas.
A Tom Tom mantém um portal em tempo real para medir o aumento do trânsito em ruas e avenidas de 295 médias e grandes cidades globais de 38 países em horários mais problemáticos. O ranking é considerado o padrão internacional de medição de congestionamentos. A conta é feita comparando uma mesma via em momentos de trânsito livre e quando elas ficam paradas.
De acordo com a empresa estadunidense, o lugar mais congestionado do mundo é a Cidade do México, com uma alta de 66% de tempo para se locomover pelas suas ruas e avenidas nos horários mais problemáticos. Em seguida, está Bangkok, na Tailândia, que registra um crescimento de 61% de tempo nos congestionamentos em comparação com as mesmas vias em horários livres.
Jacarta, na Indonésia (58%), e Chongqing, na China (52%), completam os cinco primeiros colocados da lista. Atrás de Bucareste, estão Istambul, na Turquia (49%), Chengdu, também na China (47%), Rio de Janeiro, no Brasil (47%), Tainan, na Malásia (46%), e outra chinesa, a capital Pequim (46%) encerram o ranking das 10 primeiras posições.
“A infraestrutura que poderia aliviar o trânsito está sendo construída lentamente, enquanto o número de veículos aumenta dramaticamente a cada ano”, explicou o instrutor Ovidiu Popa ao The Guardian. Ele lamenta que, desde os anos 1980, quando a capital romena cresceu em população, a administração da cidade jamais fez um grande projeto urbano para resolver os problemas consequentes.
A taxa de carros por pessoa é imensa em Bucareste: embora a cidade tenha oficialmente uma população de apenas 2,1 milhões de habitantes – apesar de algumas estimativas indicarem um número de 2,6 milhões –, há quase 1,3 milhão de veículos registrados pelas autoridades. Esse crescimento não mostra sinais de diminuir: no licenciamento de 2017, foram registrados 30 mil novos carros nas ruas apenas nos quatro primeiros meses do ano.
“Nós não temos um anel viário com duas pistas em cada direção, mas o problema também passa pelas nossas ruas repletas de buracos e sem sinalizações claras aos motoristas”, adicionou Popa.
O veterano instrutor reclama da avalanche de novos motoristas que, pelas leis romenas, precisam de apenas 32 horas de formação para adquirir a licença. Ele acredita que não é tempo suficiente para ensinar as regras e regulações de trânsito e a formar motoristas que se “comportem” durante congestionamentos.
“Somente um terço dos moradores passam no teste de direção em sua primeira tentativa. Não importa o quanto você os ensine, muitos falham devido ao nervosismo e à intensidade do trânsito da cidade”, disse ao The Guardian.
A administração de Bucareste anunciou em novembro passado uma série de planos para construir pistas prioritárias para transporte público ao mesmo tempo em que tenta colocar em circulação 600 novos ônibus, VLTs (na Europa os veículos são chamados de “trams”) e trólebus, assim como renovar as principais estradas que dão acesso à cidade até 2030.
Para muitos motoristas e observadores, porém, essas mudanças não resolverão tão cedo os problemas. Uma associação romena chamada Psiho TrafiQ promove campanhas pedindo que os motoristas respeitem as leis, evitem as ruas mais entupidas da cidade e deixem de usar seus veículos durante os piores horários.
A presidente da associação, Mihaela Rus, disse à EFE que os engarrafamentos estão sempre ligados ao aumento dos acidentes, que ocorrem por causa da falta de educação dos romenos no trânsito. “Nós precisamos escolher formas alternativas de transporte, como ônibus, metrô, bicicletas e motos”, finalizou.