A singularidade da água da chuva

  • Por Rosa Floriano
Rosa Floriano é sócia fundadora da Efrata Consultoria Ambiental – Divulgação

No artigo de hoje vou falar de um assunto aparentemente tão simples e que parece que todos sabem. Mas poucos sabem da sua real aplicabilidade. Todos sabem que teoricamente, a chuva cai e a água tem dois destinos: ou se infiltra no solo ou escoa superficialmente. A água que escoa rapidamente pela superfície leva algumas horas para chegar a um córrego ou rio. Em Campo Grande seria basicamente ao córrego Prosa e ao Segredo (apesar de termos 33 córregos) e ao Rio Anhandui. Entretanto, além de causar erosão e enchentes, não é usada porque só existe quando se tem muita chuva. A água que se infiltra no solo leva alguns meses para chegar ao rio; fica reservada, guardada, e pode ser usada no período seco nas atividades econômicas, como irrigação, indústria e no próprio abastecimento das cidades.

Produzir água significa transferir boa parte da água que causa enchente e erosão para o solo, fazendo com que ela se infiltre e fique disponível, meses depois, durante a seca. Atualmente existe um programa que estimula o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para produtores rurais, voltado à proteção das bacias hidrográficas. Os projetos apoiados visam à redução da erosão e do assoreamento de mananciais no meio rural, melhorando a qualidade e a oferta de água. Deste modo o governo presta apoio técnico e financeiro à montagem dos arranjos do programa e à execução das ações de conservação de solo e água nos diversos projetos existentes.

A primeira experiência piloto foi no município de Extrema, em Minas Gerais, em 2006. Hoje, o programa conta com 57 projetos em andamento, abrangendo 400 mil hectares de áreas protegidas, e há mais 23 projetos em fase final de contratação. São mais de 2 mil produtores recebem por esses serviços ambientais. No momento em que se tem essa parceria com o produtor, dizendo que “ele vai receber” para cuidar daquilo que é feito na propriedade, a possibilidade de uma mudança de comportamento é muito maior do que em qualquer outro lugar ou situação.   Para fazer com que a água deixe de escoar e se infiltre no solo é preciso implementar algumas práticas vegetativas. É preciso ter cobertura vegetal sobre o solo o ano inteiro para que o impacto da água não cause erosão. A cobertura florestal é a ideal, mas certamente que uma pastagem bem manejada também é uma boa opção, assim como a rotação de cultura na lavoura ou o plantio direto com matéria orgânica.

O importante é não deixar o solo desprotegido, ou seja, praticar uma agricultura e uma pecuária sustentáveis. Além, disso, a propriedade precisa de estruturas que melhorem a infiltração de água no solo, como terraços ou bacias de infiltração, capazes de reduzir a velocidade da água e aumentar o tempo de oportunidade de infiltração no solo Desse modo, independentemente de a chuva ser muita ou pouca, a água estará reservada no solo para o período seco, para ser aproveitada em atividades econômicas a jusante (abaixo do fluxo da água) da propriedade. O Programa Produtor de Água, por exemplo, colabora com o abastecimento de sete capitais: Goiânia, Rio de Janeiro, Campo Grande, Palmas, Rio Branco, São Paulo e Curitiba, além do Distrito Federal. A população impactada chega a 35 milhões de pessoas. Quem paga? São os beneficiários dos serviços, como a Águas de Campo Grande, ou a Sanesul, o comitê de bacia ou a prefeitura do município. A agência de águas já disponibilizou R$ 40 milhões para o programa. Chegou o momento de pensar um pouco mais no futuro e valorizar o bem que temos.

*Colunista do AgoraMS no viés Ambiental.

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