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A lenda mitológica do Dia dos Namorados romeno

Em vez de dar presentes, os casais devem “apreciar a atenção e a presença” um do outro; é uma das poucas celebrações que envolvem um deus “próprio”

No dia 12 deste mês, os casais brasileiros estarão trocando presentes, cartas de amor ou flores para o Dia dos Namorados. Em 2018, a data completará 70 anos de existência no país – foi criada em 1948 e executada já naquele ano pelo então publicitário de uma rede de varejo de roupas, João Dória, pai do ex-prefeito de São Paulo, João Dória Jr.

Nos últimos anos, especialmente em algumas capitais, os casais também se adaptaram ao Valentine’s Day, o Dia dos Namorados comemorado em boa parte da Europa e nos Estados Unidos no dia 14 de fevereiro. Assim como no Brasil, as pessoas trocam presentes e celebram com jantares, pequenas festas ou até viagens.

No entanto, existem várias outras comemorações de namorados em diferentes tradições pelo mundo. Um dos mais conhecidos é o Festival Qi Xi, na China, baseado em uma lenda sobre o amor entre Zhi Nu, uma deusa famosa por suas habilidades de tecelã e um fazendeiro chamado Niu Lang.

No País de Gales, o dia mais romântico do ano não é uma referência a um santo, como São Valentim ou Santo Antônio, mas marca a lembrança de uma mulher: a princesa Dwynwen, que viveu no século IV e que ficou conhecida como a patrona galesa do amor por não ter se casado com o seu príncipe.

Mas há um Dia dos Namorados ainda mais tradicional: o dia de Dragobete, na Romênia.

Na mitologia tradicional romena, Dragobete é um jovem deus do panteão autóctone, mas as datas de sua celebração variam pelas regiões do país. Ele é considerado o santo patrono do amor e da alegria e é geralmente associado com o cupido, da mitologia romana, e com o deus grego Eros. No entanto, ao contrário desses deuses do amor, Dragobete não intervém diretamente nas relações entre os seres humanos: ao invés disso, ele tenta apenas lembrar as pessoas para nunca deixarem de celebrar o amor.

Existem várias interpretações sobre a figura do deus romeno. De forma geral, pode-se dizer que Dragobete era filho de Baba Dochia que, por sua vez, era filha do último rei daciano, Decebalus. Também conhecido como Dragomir, o jovem é descrito na mitologia como “metade homem e metade anjo”, além de ser bonito, imortal e ter a capacidade de andar pela Terra assim como outras criaturas e semideuses do panteão. Porém, as pessoas não conseguem vê-lo por causa da decadência da sociedade em que vivem.

Alguns etnógrafos ligam o feriado de Dragobete à chegada da primavera na Europa. Em algumas regiões da Romênia, o jovem deus é considerado também o patrono dos pássaros e, dessa forma, o feriado significa a fertilidade e o renascimento da natureza após o inverno. O dia 24 de fevereiro marca, no continente europeu, um mês de antecedência à chegada do equinócio da primavera, quando os pássaros voltam para construir seus ninhos, as árvores voltam a crescer e a natureza retorna à vida depois do inverno rigoroso. Na Romênia, vale dizer, as temperaturas entre dezembro e janeiro chegam a zero grau.

Para celebrar o aniversário de Dragobete, festas são organizadas e muitos casamentos são marcados para a data. Os homens e as mulheres usam roupas especiais e se encontram apenas em frente aos templos das cidades, onde começa uma busca: ambos precisam ir às florestas e colher flores primaveris.

Os meninos que encontram flores de morango são os mais sortudos, pois a mitologia romena afirma que elas possuem poderes mágicos. Eles fazem pequenos buquês e lavam as pétalas nas águas usadas pelas mulheres para lavar os cabelos enquanto recitam poemas “mágicos”. As meninas, por sua vez, voltam correndo à cidade ou vila e esperam pela chegada dos garotos com as flores, quando eles podem, enfim, se declarar às suas amadas – caso elas gostem de quem lhe trouxe flores, o casal deve anunciar publicamente o seu amor dizendo “Dragobetele sărută fetele” (Dragobete beija as meninas).

À noite, homens e mulheres voltam à floresta em direção às montanhas para sentar ao lado de fogueiras e conversarem até o amanhecer.

Em algumas vilas do país, porém, as tradições são mais pessoais: no dia de Dragobete, os casais devem fazer um pequeno corte em formato de cruz no antebraço e colocar uns aos outros, tornando-se, assim, irmão e irmãs de sangue. Os cerimoniais incluem juramentos de lealdade ou abraços e beijos “fraternais”. Aqueles que se tornam irmãos de sangue devem organizar uma festa para todos os seus amigos – e é comum que pequenas vilas esperem o ano todo pela celebração.

Apesar do grande sucesso internacional do Valentine’s Day, celebrado a cada 14 de fevereiro nos Estados Unidos e na Europa, a Romênia prefere manter-se atada às suas antigas tradições sem deixar de abraçar o novo. “Dragobete e São Valentim são forçados a coexistir. Algumas pessoas celebram o Valentine’s Day, outras celebram o Dragobete e existem alguns que não hesitam em comemorar os dois”, comenta a brasileira Thais Chartuni, que vive em Bucareste, capital romena, há dois anos

“O feriado de Dragobete é diferente porque não se trata apenas de dar rosas, chocolates, joias e cartas de amor à pessoa amada, mas de apreciar a atenção e a presença dela. Na Romênia isso é realmente levado a sério”, completa.

O dia de Dragobete tem outra diferença em relação ao Valentine’s Day e ao Dia dos Namorados: ele inclui também quem está solteiro. As tradições romenas dizem que alguém sem par encontrar e abraçar uma pessoa que lhe atrai na data, esta pode se apaixonar. “É uma das coisas mais interessantes, porque tem muita gente que descobre que é a paixão de outra somente nesse dia. Aconteceu comigo na universidade, por exemplo: um rapaz se declarou para mim em uma festa no 24 de fevereiro”, comenta Thais.

Por causa do dia do deus mitológico, fevereiro é considerado o mês do amor na Romênia. As comemorações chegaram a ser suspensas em alguns períodos do passado, como na época de Romanu Ceausescu ou em alguns momentos da fase comunista, mas voltou a ser lembrado assim que o país precisou reconstruir sua identidade nacional.

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