Mostras alternativas e diversidade de espetáculos confirmaram a vitalidade das artes cênicas, com público lotando os espaços em todas as apresentações.

O brilho das artes cênicas encontrou seu ápice no último sábado (27), quando o 11º Festival Internacional de Teatro de Dourados (FIT) encerrou dez dias de programação intensa. Ao longo da edição, cerca de 4 mil pessoas passaram por praças, parques, auditórios e espaços alternativos que se transformaram em palco para companhias nacionais e artistas de Mato Grosso do Sul, consolidando o FIT como um dos maiores encontros culturais do Centro-Oeste.
O show da cantora Letrux, no Parque dos Ipês, coroou a festa em grande estilo. Plateia cheia, fãs dançando e, ao final, uma fila animada de admiradores com discos de vinil em mãos para garantir autógrafo da artista. “É maravilhoso estar em Mato Grosso do Sul, em Dourados, pela primeira vez para o show de encerramento do FIT. Um festival que é mais que programação, é uma celebração à cultura, em especial às artes cênicas. Obrigada por essa energia tão viva”, disse a cantora, emocionando o público.
A noite de encerramento foi plural. Antes de Letrux (RJ) e do DJ Aruan (Campo Grande), o público acompanhou a apresentação da Orquestra UFGD e do espetáculo “Encontro de Gigantes”, do grupo Ás de Paus (Londrina/PR), que encantou crianças e adultos com a magia cênica e pernas de pau. Para a pequena Maísa Ferreira, 9 anos, foi uma estreia emocionante no universo do teatro. “Foi a primeira vez que fui ao teatro. Gostei de tudo, principalmente quando o gigante apareceu”.
Entre os olhares atentos da plateia também estava a psicóloga Alessandra de Jesus, que trouxe seis crianças para a programação. Para ela, o FIT extrapola o entretenimento. “A cultura promove saúde mental e fortalece conexões sociais. Inclusive, encerrar o festival em pleno setembro amarelo [mês de prevenção ao suicídio] com teatro, música e orquestra é um respiro de vida. O FIT traz de volta esse espaço coletivo, aberto, que todos precisamos”.
Para além da arte, o festival também proporcionou encontros simbólicos. Foi o caso de “Tekoha – Ritual de Vida e Morte do Deus Pequeno”, do grupo Teatro Imaginário Maracangalha (Campo Grande), apresentado na Praça Rego D’água no dia 20 (sábado), que narra a trajetória do ativista indígena Marçal de Souza, assassinado em 1983.
Na plateia, a indígena Edna de Souza, de 74 anos, filha do ativista e moradora da aldeia Jaguapiru (Dourados), estava emocionada. “A arte tem dado continuidade à memória viva do meu pai. Cada palavra dita em cena traz ele novamente à vida. O teatro mantém a luta dele viva e faz com que as pessoas compreendam, mesmo que não tenham vivido, a dor e a resistência dos povos indígenas.”
Mais do que uma celebração, o FIT acontece em um estado que, segundo o IBGE (2022), abriga a terceira maior população indígena do Brasil, com 116,3 mil pessoas, atrás apenas do Amazonas (490,8 mil) e da Bahia (229,1 mil). Mas esse mesmo território carrega marcas dolorosas. Conforme o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas de 2022, Mato Grosso do Sul foi o terceiro estado com maior número de assassinatos de indígenas, registrando 38 casos apenas naquele ano.
Nesse cenário de contrastes, o festival reafirma a urgência de uma arte que não apenas emociona, mas também instiga reflexão e abre caminhos para transformações. Enquanto Campo Grande carrega o título da capital com o pior índice de acesso à cultura no País — segundo pesquisa do Ministério da Cultura em parceria com o Datafolha, divulgada em agosto deste ano — é no interior que surgem novos horizontes: público pulsante, palco cheio e cortina aberta.
O FIT mostra que Dourados pode se afirmar como referência cultural, provando que a descentralização não é apenas necessária, mas vital para fortalecer as artes e aproximá-las de diferentes públicos.
O coordenador de Cultura da UFGD e do FIT Dourados, Gil Esper, reforçou a receptividade do público douradense e o alcance do festival. “Recebemos pessoas que vieram de outras cidades para prestigiar as peças e shows. O FIT está retomando suas atividades com força e, ao mesmo tempo, pode voltar às origens. Na programação contamos com a presença poética de Emanuel Marinho, idealizador do festival em 2009. Aqui, mostramos que Dourados pode ser um polo de cultura e o quanto o público aguardava esse retorno”.
O 11º Festival Internacional de Teatro de Dourados foi uma realização da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e do SESC/MS, com apoio da FUNAEPE, Prefeitura de Dourados, Casulo – Arte e Cultura, Sucata Cultural e UEMS. A edição de 2025 integrou a programação especial de celebração aos 20 anos da UFGD, reafirmando que cultura é alicerce de identidade, pertencimento e futuro. Para conferir o que rolou, acesse o Instagram @culturaufgd.