1ª etapa do projeto Quilombo em Atividade coleta depoimentos que servirá como base de ensino

Foram pouco mais de dois meses de entrevistas com pessoas do quilombo urbano São João Batista em Campo Grande

Equipe do projeto realizando entrevista com Rosana Anunciação – Assessoria

Como forma de contar um pouco da história de Campo Grande e para que ela seja contada dentro da sala de aula, o projeto Quilombo Em Atividade coletou cerca de 15 entrevistas com 20 pessoas da Associação Familiar da Comunidade Negra (AFCN) São João Batista, um dos quilombos urbanos de Campo Grande. Assim foi encerrada a primeira etapa do projeto, que seguirá com oficinas online, edição das entrevistas e criação de site onde elas serão disponibilizadas.

O projeto foi contemplado com recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC/2019), oriundos da Prefeitura de Campo Grande por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).

As entrevistas iniciaram em outubro, com a atual presidente de honra da associação, Rosana Anunciação. De lá para cá outros moradores da comunidade deram seus depoimentos e contaram sobre suas vivências e história do quilombo. “Foi um processo de grande aprendizado, a comunidade tem conhecimentos ancestrais riquíssimos – espiritual, da natureza, de como tratar o outro – que a sociedade contemporânea abandona cada vez mais. As entrevistas foram verdadeiras aulas”, afirma a artista visual Vanessa Bohn, uma das idealizadoras do projeto.

Para Rafael Leite de Sá, assistente de pesquisas e um dos idealizadores do projeto, realizar as entrevistas foi um encontro consigo mesmo. “Tem a relação profissional do trabalho, mas neste teve a relação pessoal, sou negro, acabei buscando coisas em mim também. Por mais que eu não venha de uma família quilombola, me vejo muito nos costumes que eles têm, muitos são os mesmos da minha família”, explica. “Minha avó mesmo é devota de São João Batista, minha família é, assim como eles”, exemplifica.

Durante a captação dos depoimentos por áudio foram realizadas uma série de fotografias dos entrevistados, que culminarão na sobreposição de som e imagens. Quando finalizados, eles serão disponibilizados em um site criados exclusivamente pelo projeto, como um mapeamento poético do quilombo São João Batista.

“Eu acredito que esse trabalho é muito importante não só para nossa comunidade, mas para todas as pessoas, não só de Campo Grande, do Brasil mesmo. Assim poderão conhecer a realidade de um quilombo, como funciona. Foi uma honra ter a oportunidade de contar nossa história e vivência em comunidade”, pondera Margareth Anunciação, funcionária pública e uma das entrevistadas pelo projeto.

História afro-brasileira na sala de aula

No Brasil existem as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que estabelecem a temática ‘História e Cultura Afro-brasileira e Indígena’ como parte da matriz curricular do ensino nas escolas. Entretanto, a sua aplicação em sala ainda não é algo efetivo no plano de ensino do País. Ponto que os realizadores do Quilombo em Atividade esperam que mude, por isso pretendem dar suas contribuições junto aos professores no projeto.

“Nossa expectativa é que quando o site estiver construído sirva como base de conhecimento da cultura afro-brasileira, proporcionando embasamento para que professores e educadores da rede pública possam inserir o conteúdo no dia a dia da sala de aula, essa será uma das abordagens  do curso de Formação de Professores que iremos proporcionar. Nós queremos incentivar a inserção da história afro-brasileira na sala de aula, não fazer algo somente no dia 20 de novembro (quando é comemorado o Dia da Consciência Negra). É necessário ter uma trajetória ao longo do ano”, declara Vanessa.

Com a cultura afro-brasileira contada dentro da sala de aula, pessoas negras poderão se enxergar como negro e ver que também fazem parte da história do país, já que essa parte muitas vezes é apagada. “Assim teremos representação, mostrará que temos orgulho de quem nós somos. Além disso, as pessoas de Campo Grande não conhecem o quilombo São João Batista. Temos que entender que o negro não está só na Bahia ou Rio de Janeiro, está pelo país inteiro”, salienta Rafael.

Levar essas histórias para a sala de aula, além de contribuir para o empoderamento das pessoas negras, também pode ajudar na luta contra o racismo. “Muitas crianças irão conhecer a comunidade a partir de um relato feito para o projeto. São histórias importantes contadas ali, da minha avó, da minha mãe. Importantes não só para nossa família, mas para toda nossa cidade”, conclui José Evandro Anunciação, militar, 26 anos, que também cedeu entrevista.

Para acompanhar o desenvolvimento do projeto Quilombo em Atividade siga o perfil no Instagram @quilomboematividade.

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